Você conhece duas pessoas que se gostam muito, mas, não conseguem se manter juntas? Eu conheço várias. Conheço, também, casais compostos por pessoas que não são apaixonadas, mas que vivem com tranquilidade e leveza. Nesse caso, os envolvidos decidiram priorizar o que existe de interessante na relação como, por exemplo, afinidades culturais, hobbies, etc. Aquela paixão flamejante, muito desejada por qualquer ser humano, nunca entrou no pacote, contudo, esse ‘desfalque’ é compensado com outros pontos positivos que o relacionamento proporciona.
É comum, principalmente, por parte das pessoas intensas, a ideia de que um vínculo só vale a pena se houver paixão, pelo menos na fase inicial, já que existe a consciência de que ela vai abrandando com a convivência. A paixão, esse sentimento que nos deixa com o coração saindo pela boca, é, de fato, viciante e nos causa, muitas vezes, uma sensação de ressurreição. Acredito que você já saiba, mas não custa lhe refrescar a memória, de nada adianta uma paixão efervescente entre duas pessoas se elas não possuem maturidade para se relacionar. Existe coisa pior do que aqueles relacionamentos do tipo gangorra? O casal passa uma semana bem, depois fica 10 dias emburrado, em crise, faz as pazes e, depois de 3 dias, se desentendem de novo. Não há amor que resista a um formato de relação desse, concorda? Há casos em que não é possível programar uma viagem porque há o risco de, na data, o casal estar pelo avesso. Essa alternância de fases acaba gerando um profundo desgaste emocional e, não demora para aparecerem os prejuízos na relação. Chegará uma hora em que os parceiros vão começar a olhar aquele vínculo com outros olhos, um vai olhar o outro como fonte de estresse. Os sentimentos de frustração, angústia e mágoa passarão a fazer parte daquela atmosfera e, inevitavelmente, ambos ou um deles vai desejar viver a paz que aquela relação não oferece.
Pois é, mesmo existindo uma química violenta, mesmo que fiquem de pernas bambas quando se beijam, ainda que haja uma baita admiração recíproca, mesmo com todo o encantamento que uma paixão proporciona, não se iluda, todo relacionamento carece de paz para prosperar. É fundamental aquela expectativa de que estarão bem na próxima semana, no próximo mês…enfim. Viver com o coração saindo pela boca é bacana, mas isso não diminui o valor da calmaria de uma relação regada pelo respeito à individualidade do outro, pela entrega sincera e sem paranoias e pela confiança.
Em suma, um relacionamento saudável requer maturidade e equilíbrio emocional. Se uma pessoa, não possui esses atributos, ela pode se deparar com um grande amor, aquela paixão digna de filme de cinema, que ela vai estragar tudo, por não saber lidar com aquilo.
Considero, ainda, que muitas pessoas não sabem lidar com o fato de estarem sendo amadas. Elas não se percebem dignas do amor de ninguém, elas vão sempre dar um jeito de sabotarem a relação quando tudo começa a fluir bem. É como se elas não aguentassem aquela paz, elas precisam provar para si mesmas que existe algo errado, então, elas darão um jeito de trazer à tona qualquer situação que jogue lama no ventilador e, diante do caos, vão se recolher e se vitimizar dizendo que não têm sorte com esse tal de amor.
Diante de tudo isso, volto lá para o início do texto e tiro o chapéu para quem consegue administrar uma relação mesmo sem borboletas no estômago, afinal, ali existe parceria, respeito, cumplicidade e oxigênio para ambos respirarem. Um não vai asfixiar o outro com cobranças embasadas pelas próprias paranoias. Viajam, desfrutam de experiência interessantes, respeitam o espaço um do outro e são grandes amigos. Até porque, pensando bem, é isso que acaba importando para uma boa convivência.
Não há amor que suporte viver nessa montanha russa de sentimentos. O amor não é tempestade, é um sereno tranquilo numa tarde de domingo. Por fim, antes de pedir ao Universo um grande amor, peça, no pacote, a maturidade e sabedoria suficientes para administrá-lo, do contrário, você vai estragá-lo com as próprias mãos, vai por mim.
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