O bonito da vida é trivial, por mais que as fotos do Instagram nos digam o contrário! Não vivemos nas fotografias, pedaços de uma colcha de retalhos cujos tecidos completos, às vezes, estavam puídos. Mas, vivemos sim, o tempo todo, no relógio que nos desperta na hora x, na roupa que se estende no varal, no cochilo após o almoço, na testa suada do filho que dorme como um anjo num dia quente!
A vida tem beleza porque ela não é a cena principal do nosso filme preferido, é plano-sequência entre o escovar de dentes e o próximo beijo na boca. É tudo aquilo que fazemos entre o primeiro e o último ato. Afinal, o motorhome que nos leva pelas estradas do mundo, também necessita de motorista e pratos limpos, para que possamos – com energia – apreciar as paisagens.
O trivial é a costura de ponto firme do vestido que bordamos pelos dias da vida! No trivial, dormem os casais idosos que se amam e os jovens apaixonados que arrepiam a pele quando se tocam. No hábito corriqueiro, os cadernos, encapados com capricho, são colocados nas mochilas dos filhos pequenos e a bênção solicitada aos avós é dada intuitivamente. Os vestidos de festas e os ternos especiais, cujos valores são divididos e pagos com diligência, passam mais tempo em nossos guarda-roupas do que em nossos corpos, dos quais as formas já estão impressas no nosso bom e velho moletom usado apenas para ficar em casa.
É claro que temos nossos dias requintados com bailes e taças de champanhe! De chapéus de palha com abas largas deitados em cadeiras de frente para o mar… Mas, temos o nosso dia a dia: tão simples e precioso em que se costuram as melhores memórias. O cotidiano com cheiro de biscoito-frito e café feito na hora fluindo pela casa, da borboleta azul que passeia pela estrada enquanto seguimos de ônibus para algum lugar, ou quem sabe, dos velhos pratos de porcelana riscados pelas inúmeras refeições saboreadas. Moramos no nosso cotidiano, com as nossas tristezas, alegrias, medos e sonhos. Despidos de roupas caras e selfies perfeitos. No comum, sendo somente o que somos: sem glamour, mas com a louvável necessidade de nos amarmos sem filtros!
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