Pronto. Minha cadeira finalmente está na areia sob a sombra do guarda-sol e recebendo o vento que vem do mar. Não foi fácil. Passar protetor em duas crianças, carregar a estrutura de um dia inteiro de praia. Rezar pra Nossa Senhora das Vagas pra achar estacionamento. Montar um castelo de areia. Ver a água do mar derrubar tudo. Aff. Não importa o que o Instagram dos outros diga com gifs e hashtag #plenitude. Felicidade é coisa suada.

Dentro do universo que é a vida de cada pessoa, existe uma premissa importante a ser considerada: precisamos estar em constante estado de alerta para não nos vermos soterrados pelas mazelas da vida. Ao assistir a retrospectiva de 2018 na televisão eu entendi, por exemplo, que não tinha estrutura psicológica pro meu vídeo anual de final de ano. Eu estou sem maturidade emocional pra comentar o que foi o ano que passou. Ainda assim foi importante lembrar o que eu precisei fazer pra me manter feliz. E me dar tempo pra recarregar as energias. Não dá pra entrar numa nova fase, ciclo, com 2% de bateria. Então eu fiz o que a maioria fez, revisou tudo que superou e se agarrou nisso pra ter coragem de se jogar de peito aberto em 2019.

Fato é que felicidade é matéria amorfa e em constante mutação. A gente tem que ficar se convencendo do que é bom, pra não se perder no que é difícil. Alguns chamam isso de “mindfullness”, outros de “consciência alerta”, outros de “o copo meio cheio”. Não interesse como você pratica este exercício de olhar o lado bom do momento presente. Meu conselho é: faça-o. Pelo simples razão de manter a sanidade e o otimismo frente a qualquer adversidade que a vida te joga. Desequilibrados e pessimistas nunca vão longe, de qualquer maneira. E aceite de forma definitiva que felicidade dá trabalho. Exige constante convencimento, contexto, contra-ponto e uma dose cavalar de auto-perdão/compreensão. Comece a praticar.

É mais ou menos assim. Quando lembro que meu corpo não tá como eu gostaria pra visitar as areias da praia, eu me faço lembrar da enxurrada de manjares dos deuses embebido em vinho italiano que eu gozei sem culpa durante 2 meses da minha viagem. Quando eu lembro dos boletos que vão vencer em alguns dias, eu lembro de todos que eu venci durante todos os 12 meses que passaram. Se rola um arranca-rabo com o namorado, eu me convenço que de qualquer forma, as coisas vão se resolver e que a gente vale a pena. Juntos e/ou individualmente. Se a onda derrubou meu castelo de areia, eu já sei como fazer um mais forte. Deu pra entender? Plenitude não vem de graça. Tranquilidade não avisa quando chega. E se você não a pratica e não a recebe, ela nunca chega ou passa desapercebida.

E isso não pode ser considerado apenas nas pequenas coisas, mas algo a ser lembrado a cada grande obstáculo que se encara. Certo dia comentava em um atendimento de thethahealing (porque eu adoro novas formas de cura) que tinha muito medo de ficar lembrando da saudade que sinto do meu irmão o tempo todo. A terapeuta então me perguntou o que poderia ser pior do que lembrar do meu irmão com saudade, e foi ali que me caiu uma ficha importante. Pior do que lembrar do meu irmão, seria esquecê-lo. Que triste não? Esquecer desse amor e tudo que vivemos. A perspectiva me ajudou a ver o lado bom desta falta. Claro que eu preciso ficar consciente de que a saudade lembrada não me aprisione. Então eu mais uma vez, olho com carinho pro tempo que tive com esse amor insubstituível e brindo a nossa vida juntos com alegria. Tem coisa mais definitiva que a morte de alguém? Não tem. Tem como isso não definir a tua vida? Tem. Felicidade suada. Batalhada. Consciente.

Olhar pra 2018 e dizer que foi difícil é muito fácil. Felicidade suada é decidir ser bem despeitada com a própria dor e seguir com o compromisso de dias melhores. Porque essa tal de felicidade não é garantida pra ninguém. Não é permanente. Nem completa. Nem de graça. Nem fácil. Sabe, a grama do vizinho segue tendo que ser regada e aparada, e isso faz dela verde.

O castelo de areia do guarda-sol do lado é maior, e agora os meninos estão lá, ajudando a reforçar o do vizinho, que passaram a chamar de amigo. Estão todos num busca-corre de água do mar e mais e mais areia. Felicidade suada. Não importa se o mar vai derrubar tudo depois.

O momento já é eterno. Que felicidade.

Fim da sessão. E de 2018. Feliz 2019 família Antônia no Divã

Antônia no Divã

Uma questionadora fervorosa das regras da vida. Viajante viciada em processo de recuperação. Entusiasta da escrita. Uma garota no divã figurado e literal. Autora do blog antonianodiva.com.br.

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