O mestre Rubem Alves, em seu livro “O Amor Que Ascende a Lua”, diz: “O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: ‘Se eu fosse você…’ A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina.
Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção. Todos reunidos alegremente no restaurante: pai, mãe, filhos, falatório alegre. Na cabeceira, a avó, com sua cabeça branca. Silenciosa. Como se não existisse. Não é por não ter o que dizer que não falava. Não falava por não ter quem quisesse ouvir. O silêncio dos velhos. No tempo de Freud as pessoas procuravam os terapeutas para se curarem da dor das repressões sexuais. Aprendi que hoje as pessoas procuram os terapeutas por causa da dor de não haver quem as escute. Não pedem para ser curadas de alguma doença. Pedem para ser escutadas. Querem a cura para a dor da solidão”.
Estudo mostra que ouvimos apenas cerca de 10% do que o outro fala
Partindo deste prisma fizemos podemos compreender que ao se sentar para conversa com alguém: um amigo, um filho, um companheiro ou um colega de trabalho, com que frequência você está realmente pensando em mais nada que não sejam as palavras que estão saindo da boca dele? Não é muito frequente que esteja atento à conversa. Lembre-se de que nestes instantes você não está sozinho.
E aí é que sai o involuntário “anrãn”. Porque estamos tão distraídos com a cacofonia de nossas redes sociais e Tweets de nossos Smartphones, para não mencionar a nossa crescente lista de tarefas. Todas essas energias invasoras concorrem para falar e ouvir por nós. O outro que espere a sua vez. E se não estamos distraídos pela tecnologia, nossos próprios pensamentos pode nos impedir de ouvir a outra pessoa. Muitas vezes pensamos que estamos ouvindo, mas na verdade estamos apenas considerando o momento certo para pular a história do outro e contar a nossa própria história, oferecer conselhos, ou mesmo fazer um julgamento, em outras palavras, não estamos dispostos a ouvir para compreender, mas sim para responder.
A escuta ativa é uma habilidade essencial e uma das melhores maneiras de se conectar com outra pessoa. A boa notícia é que é uma habilidade que pode ser melhorado com algum esforço. Também vale ressaltar que há uma nítida diferença entre ouvir e escutar. A audição é um ato fisiológico; escuta envolve nossa capacidade de descodificar o significado das palavras e os silêncios entre elas.
O escritor holandês e professor, Henri Nouwen, escreveu certa vez: “Ouvir é muito mais do que permitir que outro fale enquanto espera por uma chance de responder … A beleza de ouvir é que, aqueles que são ouvidos começam a se sentir aceitos, começam a levar suas palavras mais a sério e descobrir os seus próprios “eus” verdadeiros. Escutar é uma forma de espiritual hospitalidade pelo qual você convida estranhos para se tornar amigos “.
Por que ser um ouvinte ativo?
A investigação descobriu que a escuta ativa nos ajuda a focalizar e compreender os outros e também a melhorar nossas relações, promovendo a confiança. E ainda reduz o conflito e aumenta a nossa capacidade de motivar e inspirar aqueles com quem estamos nos comunicando. Ouvir as histórias das pessoas, juntamente com o compartilhamento de nossa própria, pode nos levar a colocar a nossa atenção para o mundo de outra pessoa no sentido de fortalecer a cultura da conexão.
Há uma variedade de maneira que pode nos tornar melhores ouvintes. Aqui estão apenas 5:
1. Prática para escutar o outro
O exercício seguinte leva apenas quatro minutos, mas irá prepará-lo para que a escuta ativa coloque você em ação nos seus encontros cotidianos: Encontre um participante voluntário. Em seguida, combinem de conversarem com um cronômetro ligado. Por dois minutos um de você vai falar prontamente enquanto o outro escuta. Se você é o ouvinte, não responderá durante os dois minutos, mas sinta-se livre para usar as expressões faciais ou acenar com a cabeça enquanto ouve. A ideia é ouvir as palavras em prol da escuta, não responda. Em seguida trocam de papéis por mais dois minutos. Uma pergunta para finalizar o exercício: Como você se sente?
2. Iniciar a partir de um lugar com a mente aberta para aceitar o argumento do outro
Muitos de nós, rotineiramente, julgam o que os outros dizem e raramente pensam sobre o benefício que a palavra do outro pode nos oferecer enquanto o ouvimos falar. Esses padrões irá permitir que você se concentre mais no que a pessoa está dizendo e menos na sua própria interpretação. Antes de entrar em uma conversa, formule a si mesmo as seguintes perguntas:
Posso ficar totalmente presente e ouvir, sem interromper, até o fim?
Posso evitar julgar o que a outra pessoa está dizendo?
Eu posso abster-me de dar conselhos?
Posso evitar interpretar a experiência dessa pessoa?
Posso me conter para não interferir com gestos inconvenientes enquanto o outro fala?
3. Seja atencioso, mas relaxe o olhar.
A ideia por trás da escuta ativa é não forçar seus olhos ou concentrar-se muito, mas estar ciente do que o outro fala de uma forma natural e focada. É melhor bloquear sons e atividades para que as distrações não desviem a sua atenção. Se o padrão da fala de alguém ou o sotaque começa a chamar a sua atenção, traga o seu foco de volta para o conteúdo das palavras.
4. Ouça as palavras e respeite o silêncio entre os dois
A maioria de nós considera as pausas desconfortáveis e o silêncio constrangedor. Mas nas pausas podemos refletir sobre o significado do que uma pessoa acaba de dizer. Tente manter a sua mente focada para não viajar durante os momentos de silêncio; atrás da pausa pode haver significados interessantes.
5. Faça perguntas abertas.
Quando parecer oportuno faça perguntas a você mesmo, que estão em aberto, tais como: O que foi que e como você se sentiu? A escuta vai fazer o diálogo melhor e dar-lhe a oportunidade de continuar com mais informações?
Todo mundo tem algo a dizer, uma história para contar, e considere as palavras que podemos aprender quando sabemos escutar. Saber ouvir é um ato de generosidade e educação. Encorajo-vos a escutar – realmente ouvir- aqueles que estão em torno de você. Se quem fala é alguém que você conhece bem, um novo conhecimento pessoal ou um profissional, o certo é que aprenderá escutando. Você nunca sabe aonde as palavras de outra pessoa pode levar você.
Caren Osten Gerszberg, escritora especializada em psicologia positiva. Publicado originalmente em Psychology Today – Tradução e adaptação livre: Portal Raízes
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