Acredite, há quem prefira ser odiado a ser ignorado. Há, inclusive, quem faça questão de ser temido, ainda que o temor seja de fato uma espécie de efeito colateral do ódio. Há mesmo quem veja lógica em vincular o temor a respeito ou a algum lugar imaginário de poder.
Ilusão ou não, os temidos confessos não passam de poços de insegurança que precisam se nutrir das alegrias alheias, absorvidas e sugadas por meio da instalação do medo e da opressão.
Mas pensemos em alguns dos motivos que podem justificar a pessoa preferir ser odiada a ignorada:
1- Tentativas fracassadas de amar ou ter amor, o que faz brotar na alma de alguma gente essa necessidade de intimidar o outro, na esperança de vincular algum sentimento, ainda que seja o medo.
2- Perceber-consciente ou inconscientemente- que odiar alguém cria laços poderosos entre quem odeia e quem é odiado. O ódio ata duas ou mais pessoas, conectadas por linhas invisíveis de ressentimento, mágoa e conjecturas de vingança.
3- Odiar alguém é submeter-se por livre e espontânea vontade à uma relação de interdependência acalorada e febrilmente doentia. A febre do ódio não conhece antitérmico que possa lhe trazer algum alívio. É um sentimento poderosamente manipulador da própria vontade, posto que modula é orienta as reações daquele que o possui em consonância com os movimentos emocionais daquele que é odiado.
4- Ser odiado é viver por aí arrastando correntes de desafetos confessos ou não, conhecidos ou não, justos ou injustos. Ser odiado é vincular o outro por meio de nós afetivos de repulsa e talvez mesmo uma espécie de admiração torta e velada, cuja essência alimenta-se do desgaste de todos os envolvidos.
O ódio é um fardo muito difícil de se carregar. É bagagem excessivamente volumosa, perdida numa mala sem rodinhas e sem alças. É peso além da conta, penoso de ser transportado pelo corpo e pela alma. Convém despejá-lo ao chão e deixar que escoe… para longe, para sempre, definitivamente.
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