Eu carrego no peito uma fé meu amigo que duvido alguém me fazer crer no contrário daquilo que teimo. Talvez seja o ímpeto taurino ou meu ascendente na casa do caralho que me deixou cascudo e a prova dos surtos diários. É o altruísmo da vida aprendido empiricamente que me transformou em alguém que pouco demonstra as fraquezas, que sorri em qualquer circunstância, que se embriaga de doses fortes e amores efêmeros, com a experiência de quem aprendeu a beber e raramente tem ressaca pelo que bebeu, mas acorda destruído pelos amores que amou.

Logo eu, que transito pelo paradoxo de crer no acaso como senhor do destino e contesto sempre imponto meu controle sobre tudo que puder, “Senhor do meu destino sou eu”; pra fugir antes de dar errado; pra pular antes de afundar; pra frear antes de bater; pra não me machucar e nem machucar ninguém. – É que as vezes não é pra ser, – me dizem as vezes, ou; – O que é pra ser seu vai te encontrar inevitavelmente, – insistem. Mas, e se já me encontrou? E se o amor já passou por mim? E se o amor era um entre os milhares de sorrisos com os quais cruzei? E se era um rosto no meio de tantos que já fotografei. E se o amor era a dona de um, das centenas de beijos que eu já provei? Essa sede de controlar o incontrolável dilacera um coração intenso e ansioso.

Tenho um medo real de ter deixado o amor passar porque não escolhi uma rua diferente, porque não me esforcei, porque estava distraído lendo um livro ou trocando a música no sinal. E se eu deixei de cruzar com meu próximo amor só porque recebi uma mensagem e desviei o olhar pro celular? Já pensou o quanto a gente muda o destino todo dia? Que alguém que você não conheceu é o mesmo alguém que só por não te conhecer também viverá uma outra vida? E quando meu olho brilhou? Quando meu coração acelerou e a gente se perdeu pela auto proteção desenvolvida como sobrevivência em um ambiente claramente vazio e carregado de interesses sádicos, de quem aprendeu amar com o ego e esqueceu de amar com o que mais importa.

Certo dia, encontrei um casal que em meio a uma festa se olhou por um instante; sabe aqueles segundos que passam em câmera lenta? Eles se olharam como se nunca tivesse existido ninguém, como se nem ao redor o barulho e o álcool derramando desconectasse esse momento. Era o olhar de quem se pertence desde sempre, chega ser bonito de ver, mas ninguém prestou atenção. Que teu próximo amor te olhe assim, sem medo. Que não te deixe se perder em outros olhares. Que não deixe pra depois. Que seu próximo amor, seja bom, seja bom com os outros. Que tenha amor na fala, que ame os animais. Que teu amor se ame por inteiro a ponto de poder te amar inteira também. Que teu amor te encha de luz e espante os demônios que assombram seu coração. Que te encoraje, te faça ir mais longe. Que tenha compreensão, que seja sua família. Que seu amor deslize os olhos pelo teu corpo tateando cada arrepio seu, que te devore e te alimente, te regue, te faça florir. Que seja canção. Que teu próximo amor te encontre e te dê a mão. Que teu amor seja feito oração.

Que teu amor seja inteiramente seu. Que seja seu próximo amor. Que seu próximo amor, seja eu.

Giovane Galvan

Giovane Galvan é taurino, apaixonado e constantemente acompanhado pela saudade. Jornalista, designer, produtor e redator, escreve por paixão. Detesta futebol e cozinha muito bem. Suas observações cotidianas são dramáticas e carregadas de poesia. Gosta do nascer e do pôr do sol, da noite, mesas de bar e do cheiro das mulheres pra quem geralmente escreve. Viciado em arrancar sorrisos, prefere explicar a vida através de uma ótica metafórica aliando os tropeços diários a ensinamentos empíricos com a mesma verdade que vivencia. Intenso, sarcástico e desengonçado, diz que tem alma de artista. Acredita que bons escritos assim como a boa comida, servem de abraço, de viagem pelo tempo e de acalento em qualquer circunstância.

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