Acredito que a solidão a dois seja uma das piores frustrações que uma pessoa possa experimentar. Sabe quando alguém se casa sem amar e sem ser amado? Falo daqueles “amores” arranjados, onde não há admiração, nem tesão, nem amor, tudo é movido pelo medo de ficar só, não sabendo os envolvidos que a solidão mais destruidora é aquela que se experimenta ao lado de alguém.
Deve ser horrível sentir que o seu abraço não encaixa no outro, pior ainda, é a certeza de que o outro não faz questão de ser abraçado por você. Deve ser desolador olhar uma boca e não sentir sede de beijá-la, mesmo regressando de uma longa viagem sem o parceiro.
Chega a constranger aquele sexo sem afeto, sempre. Aquele toque que não diz nada, aquele ritual cronometrado e previsível como quem ‘bate o ponto’. Aquele sexo puramente fisiológico, sem entrega, sem alma, cheio de reservas. E, depois, quando acaba, não existe aquela vontade de ficarem grudadinhos, sem falar nada ou falando o que vier à cabeça.
Eu falo sobre a ausência da sensação de pertencimento na própria relação, é o sentir-se o tanto faz para o outro, é se dar conta de que sua ausência não é sentida, tampouco a sua chegada é festejada. Certamente, tudo isso machuca e angustia o outro lá no íntimo da alma. Não quero dizer que relacionamento feliz é aquele cheio de desejo o tempo todo, mas é fato que o desejo dá o ar da graça com uma certa frequência e isso é vital para qualquer união.
Esmaga a autoestima de qualquer pessoa se dar conta de que o parceiro não a conhece em sua essência e não faz nenhuma questão disso. Não há interesse em se aprofundar no outro, em olhar nos olhos de verdade, em decifrar os sorrisos ou os silêncios. Juntos e tão sozinhos, desolados numa relação que não oferece aquilo que tanto anseiam: amar e ser amado.
Solidão a dois é aquele sentimento de que o outro não tem a senha para acessar a nossa intimidade mais autêntica e genuína. É olhada, mas não ser enxergada; é ser poesia aos olhos de um analfabeto.
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