Um objeto quebrou. Olho fixamente e num primeiro momento penso que pode ter sido apenas um desencaixe, olhando com maior cuidado, percebo que houve uma quebra. Meu primeiro pensamento é a possibilidade de colar e continuar usando-o, sabendo que correrei o risco de que a qualquer momento ele poderá partir-se novamente. Repenso e decido que o melhor a ser feito é jogá-lo fora, abrindo a possibilidade de usar um outro que eu já tinha ou comprar um novo.

Na metáfora dos objetos, encontro paralelo com a vida. Relações também se quebram, confiança também se quebra. Acostumados a permanecer em nossa zona de conforto, diante da quebra, somos impulsionados a querer arrumar, colar, remendar a todo custo. Perdoamos uma, duas, cinco vezes. Colamos, remendamos e permanecemos. Permanecemos por quê? Porque o novo sempre assusta, porque somos apegados ao velho mesmo que este nos gere sofrimento, porque temos dificuldade para lidar com as perdas.

O objeto já partiu, a relação já quebrou, a confiança já se foi… Mas temos medo, temos medo de enfrentar o desconhecido, temos medo de abandonar nossas antigas certezas. E nos mantemos presos ao que não cumpre mais sua função por medo de deixar ir. Encerrar ciclos é trabalhoso e dolorido, é tarefa de desconstrução de sonhos, certezas e expectativas. Dói deixar ir, dói aceitar a perda, dói olhar pros sonhos que construímos e vê-los desmoronando.

Mas dói mais ainda permanecer numa relação que já não faz sentido. Saibamos aceitar o fim dos nossos ciclos, saibamos colocar os pontos finais necessários e inadiáveis, saibamos permitir que pessoas entrem e saiam da nossa vida sem querer que elas permaneçam quando já decidiram partir. Vai doer sim, a ferida vai ter seu tempo de cicatrização, as lembranças insistirão em permanecer por um tempo, mas pior que isso é aceitar um meio amor, uma metade de relação, uma migalha de afeto. Partir porque merecemos inteiros, partir porque este lugar não nos cabe mais, partir porque um novo ciclo só se abre quando outro se fecha. Objetos quebram por desgaste, mau uso, defeito de fabricação ou qualquer outra razão desconhecida. Relações se quebram por escolhas, mas partir ou ficar também é escolha.

O objeto eu escolhi jogar fora, a relação eu escolho partir. Que venha o novo, o desconhecido e as tantas possibilidades dos começos.

Josielly Pinheiro Westphal

"Psicóloga de vez em sempre, organizada de vez em nunca. Escreve sobre coisas aleatórias e em momentos mais aleatórios ainda. Tem mania de observar tudo ao seu redor, mas tem opinião formada sobre bem poucas coisas. Aprendiz na arte de encerrar ciclos e de se abrir para novas experiências. Acredita em Deus e nas pessoas. Gosta muito do mar, de sol, da família, dos amigos. Corre, malha, faz trilha, come e bebe quando tem vontade. Sensível e durona, teimosa e manhosa: HUMANA.

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Josielly Pinheiro Westphal
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