Dizem por aí que tudo passa. Passam pessoas, passam experiências, passam amores, passam paixões, passam lugares, passam. Deixam lembranças, umas boas, outras tristes, outras que nos lembram de crescer. Algumas dizem pra gente não esquecer do nosso valor, outras pra nos lembrar de não deixarmos de tentar tão rápido, porque afinal, nem sempre dar mais uma chance pra algo ou alguém é a pior ideia, a vida tem dessas coisas de dificultar as primeiras tentativas.
Tem certas coisas e pessoas que passam, das quais não nos lembramos bem ou tentamos esquecer, mas fazem parte da nossa história e nos trouxeram até aqui. Como passam, também passamos. Passamos fazendo sorrisos e decepções, passamos deixando que nos amassem, passamos tentando evitar o amor, passamos causando a diferença na vida de alguém, passamos sem nem sermos sentidos ou lembrados.
As lembranças deveriam ser mantidas, todas elas, mesmo que quando ruins. Guardadas num acervo imaginário, onde poderíamos buscá-las em momentos necessários da nossa vida. Não deveríamos renegar lembranças por medo, vergonha ou tristeza e sim enfrentá-las. Mesmo as lembranças ruins, não tendem a nos destruir se soubermos lidar com elas, mas pelo contrário, nos fazem ter a coragem para seguir em frente. Se a vida fosse feita somente de boas lembranças, provavelmente não estaríamos preocupados em viver os momentos e pessoas de forma inteira, de forma que continuem existindo na nossa memória mesmo que não permaneçam nas nossas vidas. Voltando então ao nosso acervo de memórias e consultas aos viveres passados, digo também que não deveríamos fixar nossas vidas a somente ao que passou, ao que deixamos de viver, ao que sentimos falta, aos sonhos antigos, ao que já foi.
Se alimentarmos nossas almas, pensamentos e sentimentos apenas de lembranças, teremos apenas momentos de imaginação irreais relacionados a um universo paralelo do qual criamos para fantasiar histórias e devaneios que nunca vão acontecer, pois estarão fadados apenas a realidade imaginária de nossas criações e idealizações e assim, nossas lembranças deixam de ser apenas experiências com o passado, para serem viseiras, impedindo-nos de enxergar nosso presente e futuro e as pessoas e oportunidades que estão neles.
Às vezes me surpreendo com o quanto gostamos de idealizar coisas que já não temos mais controle. Talvez seja a nossa vontade de sermos donos do tempo, das coisas, pessoas e lugares. Mas o tempo não tem dono e nem obedece a ninguém. Fosse assim, algumas pessoas não teriam desaparecido das nossas vidas, nem as oportunidades teriam passado enquanto estávamos com medo demais de ir em frente para agarrá-las. Mas, não devíamos lamentar tanto por momentos que passaram. Nem sempre as nossas idealizações seriam a nossa melhor escolha.
Não viver do passado é viver o agora. Não precisamos de universos paralelos imaginários enquanto temos um universo real de oportunidades de ser feliz, de construir novas experiências e de seguir a vida. Porque afinal, dizem que o tempo passa, mas dizem também que já passou da hora de resgatarmos nossa felicidade, que perdemos pelo caminho enquanto fixávamos nossos olhos no passado, e já não há mais lugar para nos importarmos tanto com o que o tempo deixou pra trás.
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