Antes de tudo, coragem. Quantas vezes você já deixou de viver coisas incríveis por medo? É que a gente se apega muito ao que vê frente aos olhos e não consegue dar um passo adiante para enxergar mais amplamente as inúmeras possibilidades. É feito andar em uma estrada nublada, você enxerga mais a frente a medida que continua a andar, a vida é uma utopia. Experimente! Uma vez que você se arriscar vai ver que até dói, mas não tanto assim. A gente tá é cansado de ver o colega que não larga o trabalho com o chefe tóxico por medo de não conseguir outro emprego. Sua amiga que apagou seu brilho num relacionamento em que ela nem acredita mais, mas não larga por medo de ficar sozinha, recomeçar ou deixar tudo o “que construíram”. A grande verdade é que nada se destrói, somos resilientes e, acima de tudo, regenerativos, quanto mais a vida nos bater, mais fortes vamos ficar, e mais livres.

A gente se torna cada vez mais altruísta na medida que não temos medo de mudar de cidade, começar uma nova experiência, cortar o cabelo, mudar o visual, trocar a roupa arrumadinha por um traje mais largado ou se desapegar do julgamento alheio. A gente cresce, viu? Pode ter certeza disso. Às vezes eu me julgo até um pouco duro por tentar tratar a vida de maneira muito pratica, há quem ache que eu não sinto nada, mas a verdade é que é bem o contrário. Eu sinto muito, sinto intensamente, mas encontrei um ponto em que sei que dali pra frente as coisas podem não ser tão boas e acabar com a gente cheio de espinhos e mágoas. É como quando a gente se embriaga e percebe que de um ponto em diante precisa de uma garrafa de água para não perder o total controle da situação. Comigo é assim, eu mergulho profundo, mas sempre sei a hora de voltar pra respirar.

Tem que ter muita coragem para encarar a vida como ela é. É quase sádico ser alguém intenso num mundo de pessoas tão vazias. Me deparo constantemente com quem tenha vivido logo suas primeiras decepções amorosas e se carrega de um “nunca mais vou me apegar”; eu juro que queria que a vida fosse fácil assim, mas ninguém está livre dos pés na bunda diários meus amigos. É preciso ter coragem para cuidar da gente, pensar em nós, mesmo que isso pareça egocêntrico. É preciso ter coragem pra nem subir num barco, se você sabe que uma hora ou outra ele vai te deixar a deriva sem que você menos espere. É preciso ter coragem pra arrancar as pessoas das nossas expectativas e planos a longo e curto prazo. É isso ou ficar e aceitar, adiar o inevitável, se contentar com pouco, dar pouco. Ninguém quer pouco.

É preciso ter coragem para se desprender, entender por fim que as histórias têm validade, que a gente confunde apego com amor. É claro que resta um monte de carinho, parceria e coisas boas e, é exatamente pra preservar todas as coisas boas que às vezes a gente precisa colocar um ponto final em algumas relações, não nas histórias, as histórias continuam. É preciso ter coragem de lutar pela gente, de sair pela porta pra buscar tudo aquilo que nos faz sentir vivos. É duro, eu sei. é difícil, mas a gente vai se matando aos poucos quando aceita tudo do outro, os dois perdem por tanto querer ficar e por faltar coragem de partir em busca de si próprios. É preciso ter coragem. É preciso ser forte pra deixar alguém ir, mas é preciso ainda mais coragem quando é você quem tem que partir.

Giovane Galvan

Giovane Galvan é taurino, apaixonado e constantemente acompanhado pela saudade. Jornalista, designer, produtor e redator, escreve por paixão. Detesta futebol e cozinha muito bem. Suas observações cotidianas são dramáticas e carregadas de poesia. Gosta do nascer e do pôr do sol, da noite, mesas de bar e do cheiro das mulheres pra quem geralmente escreve. Viciado em arrancar sorrisos, prefere explicar a vida através de uma ótica metafórica aliando os tropeços diários a ensinamentos empíricos com a mesma verdade que vivencia. Intenso, sarcástico e desengonçado, diz que tem alma de artista. Acredita que bons escritos assim como a boa comida, servem de abraço, de viagem pelo tempo e de acalento em qualquer circunstância.

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