Tenho o maior amor por aqueles que descaroçam as azeitonas antes de acrescentá-las às empadinhas, pizzas e pastéis. Puxa vida, facilita um bocado a vida dos apaixonados pelas rechonchudinhas! Afinal, se você é um apreciador dessa iguaria salgadinha e suculenta, como eu, também já deve ter passado alguns apertos em festinhas, jantares e acepipes pela vida afora.
Eu confesso que não resisto a uma azeitona. Principalmente aquelas pretas, bem gordonas e carnudas! Hummmmmm! Mas acabo sempre me deparando com aquele pequeno dilema educacional-alimentício: O que fazer com o caroço?
Diz a regra de etiqueta que, caso se esteja à mesa, deve-se recolher o danadinho discretamente com o garfo e colocá-lo no cantinho do prato. Já, se a situação envolver uma comilança em pé mesmo, seja um cocktail ou uma paradinha na barraca de pastel da feira, o jeito e recolher o intruso num guardanapo, com a mão em concha para dar aquela disfarçada e depositar no lixo mais próximo. Pronto! Resolvido!
Eu é que não vou deixar de comer azeitona por causa do caroço, certo? Mas afinal de contas… qual é importância disso para a sobrevivência da espécie humana, a preservação da Mata Atlântica ou a salvação das ararinhas azuis? Nenhuma! Nada! Zero! Completamente desimportante!
O que me remete ao caroço da azeitona é uma analogia às pessoas que eu ando tendo o desprazer de conhecer, depois de ter com elas convivido algum tempo. A impressão que eu tenho é que o cosmos resolveu me revelar assim, meio de repente, o quanto pode-se estar cercado de inúmeros desconhecidos, quando você jurava que eram conhecidos. Ficou confuso? Ahhhhh… eu não tenho nem como discutir, sinto lhe dizer; também eu ando confusíssima.
Talvez o meu nível de distração seja ainda mais alarmantemente acentuado do que eu supunha; talvez essa minha mania de confiar sem desconfiar tenha sido realmente uma enorme tolice; talvez, no final das contas, eu seja um daqueles casos de pessoas que não têm muito olho clínico na hora de perceber que é mesmo certo que “brincando se diz as maiores verdades”. Eles, ou elas estavam de brincadeira mesmo; só que era com a minha cara!
De uma coisa eu agora estou esclarecida: gente encaroçada é muito mais complicado de lidar do que as azeitonas! Caroço de gente ocupa lugares nobres como o lado esquerdo do peito ou o interior do crânio. Gente caroçuda é indigesta, tóxica e – a longo prazo -, corrosiva. Gente quando dá para ter caroço é feito aquelas azeitoninhas da pizza de dez reais que a gente compra no estádio de futebol: é melhor descartar, sem provar. Porque se você teimar, é capaz de ficar entalado com a dita cuja na garganta. E se tem príncipe que vira sapo, imagine caroço de azeitona! Melhor não arriscar, não é mesmo?
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