Desde muito pequeno ele aprendeu a gostar de comida japonesa. Com poucos anos de vida manuseava o par de ohashi com habilidade oriental. Conhece nome e sobrenome dos sushis especiais e enche o prato de sashimi como quem come strogonoff. Porém, financiar o gosto peculiar do menino não é tarefa fácil. Um “combinado” nunca é o suficiente. Ele gosta de repetir, provar variedades, escolher seu sushi preferido em cada restaurante. Algumas vezes me peguei pensando onde estava com a cabeça quando apresentei a ele o primeiro rolinho de arroz e algas. Certamente não imaginava que começava ali um caso de amor implacável entre uma criança e um tipo de comida.

Para não falir meu bolso, o restaurante japonês passou a fazer parte das datas especiais. A cada aniversário ou dia das crianças eu perguntava o que ele queria comer, imaginando que talvez algo diferente tivesse entrado na lista de desejos. A resposta, porém, nunca mudou: “quero sushi”.

Um dia o domingo amanheceu com cara de festa. Era um daqueles dias em que se sente uma vontade irremediável de ser feliz. Feliz para sempre, se possível. Não pude negar quando ele pediu “um japonês”. Pensei num especial, com buffet repleto de sushis diferentes, ele iria gostar. Antes, porém, resolvi perguntar se ele tinha algum restaurante em mente, afinal o menino era um conhecedor do assunto, quase um jurado de programa gastronômico no tópico “sushis”.

– Pode ser qualquer restaurante japonês ou você quer algum específico?

Os olhos dele brilharam. Não sei se gostou da palavra ou se imaginou maravilhas da gastronomia oriental diante da expressão desconhecida. Muito animado, ele respondeu:

– Eu quero ir neste, por favor! No específico!!!

Foi assim que o restaurante japonês da Praça Osório, dono de alta qualidade e nome reduzido – YU – ganhou denominação mais extensa e especial para nós. Tornou-se destino certo em dias de comemoração e também nos domingos “comuns” – mas só naqueles que amanhecem com céu muito azul. Afinal, no Específico somos felizes para sempre.

Mônica Moro Harger

Arquiteta, tia, madrinha de sete. Apaixonada por gente e palavras, desde cedo fez dos “escritos” uma forma de homenagem: à vida, à família, aos amigos. No início de 2018 reuniu alguns textos no facebook e ganhou leitores assíduos, mais amigos e novos sonhos. Desde então, divide os projetos com as palavras - além do cinema com os afilhados (um ou dois de cada vez) e do café com a “menina da sala ao lado”. Vive em Curitiba, onde coleciona memórias, ímãs de viagem e recados na geladeira.

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