Talvez a dificuldade em se desculpar com alguém seja uma das características mais comuns a várias pessoas. E, ultimamente, em meio a esse contexto de contendas virtuais, em que muita gente se sente dona da razão, reconhecer o próprio erro torna-se artigo de luxo.
Estamos nos afastando demais uns dos outros, cada vez com menos tempo para cultivar os relacionamentos humanos, assoberbados que estamos com tarefas mecânicas e com trabalhos acumulados. Para que possamos consumir pelo menos alguns itens da lista material que nos cerca, sobra-nos quase que nenhum segundo para conversar com o amigo, com o parceiro, para olhar as tarefas escolares dos filhos, para assistir ao seriado favorito.
Enquanto, lá fora, nós nos distanciamos do que é humano, também aqui dentro tudo vai ficando menos humano, menos sentido, menos gente. É preciso estar com gente para que sejamos mais essência do que aparência, mais sentimento do que ostentação. Porque o tanto de coisas que adquirimos parece que vai coisificando a gente, tornando nosso íntimo mais frio, assim como todas as quinquilharias que nos cercam.
Centrados paulatinamente em nós mesmos, achamos que nosso mundinho é a única verdade que existe. Queremos ter razão, queremos ser melhores, queremos prevalecer sobre os demais. Queremos que nossas vontades sejam satisfeitas, temos pressa em comprar, em ter, somos impacientes. No entanto, relacionar-se com alguém requer demora, desprendimento, concessão e troca. E isso necessariamente necessita de que nos coloquemos no lugar do outro.
Somente quando conseguimos nos enxergar com os olhos do outro é que seremos capazes de perceber os nossos erros. Somente saindo do nosso eu é que conseguiremos perceber o alcance do que fazemos e falamos, compreendendo que nem sempre estaremos cobertos de razão. Por isso é raro quem pede desculpas, enquanto há muitos arranjando pretextos para manter a falsa ideia que possuem de si mesmos. Bonito é gente que se enxerga. Bonito é gente que nos enxerga.
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