Lendo um dos livros mais antigos do filósofo Mario Sergio Cortella chamado “A escola e o conhecimento”, eu me deparei com um trecho que me fez refletir sobre o atual momento brasileiro. Estamos muito próximos de uma eleição para presidente da república e outros cargos políticos de importância vital para nós.
Quero aprofundar o questionamento do título desse texto: Como o Brasil poderá ter mais qualidade social? Leia as palavras dele!
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Como está a morada do humano? Essa morada do humano desabriga alguém? Tem alguém que está fora da casa, tem alguém que está sem comer dentro dessa casa? Tem alguém que está sem proteção à sua saúde, tem alguém que está sem lazer dentro dessa casa? Essa morada do humano é inclusiva ou exclusiva? Essa morada do humano lida com a noção de qualidade em ciência ou lida com a noção de privilégio? Cuidado. Uma coisa que ainda se confunde muito em ciência é qualidade com privilégio.
Qualidade tem a ver com quantidade total, qualidade é uma noção social, qualidade social só é representada por quantidade total, qualidade sem quantidade não é qualidade, é privilégio. Todas as vezes que se discute essa temática aparece a noção de uma qualidade restrita, e qualidade restrita, reforcemos, é privilégio. Nesse sentido a grande questão volta: será que na morada do humano alguém está desabrigado? Será que essa casa está inteira, ela está em ordem nessa condição?
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Infelizmente, nós vivemos num país considerado “em desenvolvimento” ou de “2º mundo”. No entanto, durante muitos e muitos anos, nosso país foi de 3º mundo, que tem como característica básica o subdesenvolvimento.
Se você lembrar bem de suas aulas de Geografia no ensino fundamental e médio, vai se dar conta de que uma das maiores características de um país de 3º mundo é a desigualdade social. Em outras palavras, temos um disparate absurdo entre os mais ricos, que tem um patrimônio quase incalculável, enquanto os mais pobres precisam fazer esforços imensos para continuarem vivos, sem morrerem por fome ou doenças.
Esses padrões de diferenças colossais explicado no parágrafo anterior de fato diminuíram no Brasil, mas essa redução é bastante recente e, sejamos realistas, está bem abaixo do que poderia e deveria ser…
O que levou a essa diminuição? Foram alguns projetos de governo como o “Bolsa Família”, alguns projetos culturais fortes, incentivos em projetos de “menor aprendiz” como os que ocorrem no SENAI por exemplo etc.
E logicamente, o maior crescimento se deu em projetos que nunca serão divulgados nos telejornais porque não dá o IBOPE que seus donos querem.
Eles sabem que o IBOPE cresce com as notícias de desgraças, de mortes, de violência etc.
Mesmo mostrando de forma bem resumida esse panorama geral, sabemos que ainda existem privilégios imensos nas classes mais altas da sociedade, e vemos claramente que existem candidatos à eleição com propostas de total retrocesso na busca pela diminuição desses privilégios.
Achei brilhante a colocação do Cortella. A qualidade só é verdadeira quando é para todos, se for para poucos é privilégio.
Como sou professor, é impossível pra mim tocar nesse tema sem falar sobre a EDUCAÇÃO. O número de estudantes que têm acesso a uma educação de qualidade é infinitamente menor do que os que estão em escolas medíocres.
O sistema de cotas para entrada na Universidade é fundamental e de grande importância para no mínimo diminuir um pouco tanta desigualdade.
Sabemos que, para se estudar numa escola melhor, os pais precisam desembolsar um dinheiro que muitas vezes não cabe no orçamento. Inclusive tem escolas que são tão caras que cobram uma mensalidade superior a um salário mínimo, que atualmente é de R$ 954 (2018). Você tem noção do que é pagar mais de um salário só de mensalidade para um filho? Sem contar que existem pais com 3, 4, 5 filhos, às vezes até mais.
Imagine se cada um deles estudasse numa dessas escolas de ponta? Os pais precisariam ganhar 5, 6, 7 ou mais salários mensais para conseguir pagar. É surreal concorda comigo?
Praticamente não se fala sobre Educação na campanha dos presidenciáveis, exatamente porque é o problema mais grave de todos. Se um percentual maior do nosso PIB fosse destinado à Educação, certamente viveríamos num país mais desenvolvido, estaríamos pelo menos um pouquinho mais perto de um país de 1º mundo.
Você talvez esteja cansado de ouvir ou ler sobre a importância da Educação para transformar uma sociedade. Por mais que seja repetitivo, é preciso tocar nesse assunto, pois só assim podemos elevar a nossa consciência política!
Tenha muito, muito, muito cuidado com os candidatos que vem falar alguma coisa contra o atual sistema de cotas! Ele é uma medida NECESSÁRIA para diminuir tanta desigualdade no país!
Sempre comento isso quando converso com amigos ou com professores: “No dia em que o Brasil for um país de 1º mundo, no dia em que não houver mais essa discriminação absurda contra os pobres, os negros, os indígenas, e em alguns casos, os nordestinos etc. no dia em que as escolas públicas forem de primeiríssima qualidade e para todos, não será mais preciso ter um sistema de cotas, porque a raiz do mal terá sido extirpada, entende?”.
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No entanto, estamos longe disso! Nem dá pra ter uma ideia de quando vai acabar toda essa desigualdade. Não dá pra fugir dessa realidade! Existe uma minoria repleta de privilégios e uma esmagadora maioria que tem uma série de direitos excluídos. Citei apenas a Educação. Se fosse falar sobre a saúde de qualidade, os transportes públicos de qualidade, os projetos culturais de qualidade etc. Uau! Esse texto ficaria imenso. Teria que transformá-lo num livro…
A qualidade social só é qualidade se for total, se chegar à ampla maioria da população.
Estamos muito próximos de definir quem governará o Brasil nos próximos 4 anos. Estude a campanha dos diversos candidatos e deixe as lamparinas da sua consciência bem acesas, porque são mais de 200 milhões de pessoas que podem ser prejudicadas se o nosso país estiver nas mãos de um presidente com projetos que não beneficiem a todos!
Concluo essa reflexão lembrando as palavras que a querida Monja Coen sempre costuma falar em suas palestras e no seu programa de radio: “Somos a vida da terra. Estamos todos inter-relacionados…”.
Nessa inter-relação não pode haver tantos privilégios, não pode haver exclusivismos, não pode haver esses preconceitos absurdos que vemos, não pode haver as aberrações machistas que são estampadas diariamente etc. etc. etc.
Por um país com maior qualidade social…
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