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A gratidão pode ser boa para o seu coração, segundo estudos

Por muitas décadas, a cardiologia comportamental estudou apenas o impacto das chamadas “características negativas” – como estresse, depressão e ansiedade – em pessoas com doença cardiovascular.

O campo teve início no final da década de 1950 com o trabalho dos cardiologistas Meyer Friedman e Ray Rosenman, que descobriram que o comportamento do “Tipo A” – caracterizado pela hostilidade, urgência e competitividade – duplicou o risco de doença coronariana.

Nas cinco décadas seguintes, milhares de estudos mostraram que tais características negativas estão adversamente associadas à doença e mortalidade em pacientes cardíacos.

Mas e o impacto de traços positivos? Eles poderiam, inversamente, melhorar a saúde cardiovascular?

É o que temos trabalhado para entender em nossa própria pesquisa, focando especificamente na gratidão – que é, de acordo com o pesquisador do Reino Unido Alex Wood, parte de uma orientação de vida mais ampla para observar e apreciar os aspectos positivos da vida.

Estudos realizados até o momento indicam que sentimentos de gratidão (ou de admiração ou compaixão) facilitam percepções e cognições que levam pessoas que estão doentes além de sua doença, as ajudando a reconhecer aspectos positivos de si mesmas e das pessoas ao seu redor diante de doenças.

Alguns estudos observaram que cultivar gratidão não necessariamente reduz a visão das características negativas da vida – as pessoas parecem não ter problemas para ver as coisas ruins -, mas muitas vezes encoraja as pessoas a reconhecer mais prontamente as coisas boas da vida.

No Centro de Excelência em Pesquisa e Treinamento em Saúde Integrativa da Universidade da Califórnia, em San Diego, estamos descobrindo que expressar gratidão não é apenas uma boa educação.

Se você está sofrendo de doença cardiovascular, a gratidão pode ajudar a salvar sua vida.

Descobrindo o coração agradecido

A insuficiência cardíaca assintomática é uma condição em que o coração sofreu algum tipo de dano estrutural, mas o indivíduo ainda não desenvolveu nenhum sintoma evidente de insuficiência cardíaca, incluindo falta de ar durante o esforço ou fadiga excessiva.

Em nossa pesquisa inicial com aproximadamente 185 pacientes, descobrimos que aqueles pacientes que geralmente têm disposições mais agradecidas – também conhecidos como gratidão de “traço” – dormem melhor, são menos deprimidos, têm menos fadiga, têm mais autoconfiança para cuidar de si mesmos e têm menos inflamação sistêmica.

Todos esses fatores são altamente relevantes para apoiar maior bem-estar.

Este trabalho sugeriu que pessoas agradecidas são de fato mais saudáveis, como estudos anteriores também sugeriram.

Para levar essa pesquisa adiante, realizamos uma análise estatística para ver como a espiritualidade pode levar a um bem-estar aprimorado, considerando o efeito da gratidão.

Descobrimos que a gratidão respondia total ou parcialmente pelos efeitos benéficos do bem-estar espiritual na qualidade do sono, humor, confiança no cuidado pessoal e fadiga.

Ou seja, as relações observadas entre bem-estar espiritual, melhor humor e qualidade do sono em nossos pacientes foram, de fato, devidas às contribuições específicas de gratidão.

Com base nos resultados promissores desses estudos, realizamos um estudo piloto no qual examinamos o impacto de manter um diário de gratidão por dois meses em pacientes com insuficiência cardíaca.

Trata-se de um ensaio clínico randomizado e controlado, utilizando o registro no diário como forma de cultivar a gratidão, com o objetivo de aumentar sua presença na vida dos pacientes e, assim, potencializar seus efeitos potencialmente benéficos ao seu bem-estar.

Demos os diários aos pacientes e os instruímos a escrever registros diários sobre duas ou três coisas pelas quais eles eram gratos.

Descobrimos que os pacientes que se dedicaram ao diário de gratidão – e receberam seus cuidados habituais – mostraram marcadores reduzidos de inflamação, bem como aumento da variabilidade da frequência cardíaca (VFC), quando comparados com pacientes que receberam apenas o tratamento usual.

A VFC se refere à variação no intervalo de tempo entre os batimentos cardíacos (influenciada por componentes do sistema nervoso autônomo) e é considerada um importante indicador de saúde.

A insuficiência cardíaca é tipicamente caracterizada por uma perda de VFC à medida que a doença progride.

Como a gratidão ajuda o coração?

Nossas descobertas até agora sugerem que a gratidão – ao facilitar avaliações positivas de eventos – é provavelmente incompatível com a tríade de crenças associadas à depressão: visões negativas do mundo, de si mesmo e do futuro.

De fato, a gratidão está relacionada tanto ao bem-estar hedônico – ou seja, bons sentimentos e satisfação com a vida – quanto ao bem-estar eudaimônico, caracterizado por aspectos como autonomia pessoal, propósito na vida, relações positivas com os outros e crescimento pessoal.

Por sua vez, tanto o bem-estar hedônico quanto o eudaimônico têm sido associados à redução da probabilidade de estresse e depressão, bem como a uma saúde melhor.

Portanto, é possível que a gratidão promova uma melhor saúde cardiovascular na doença cardíaca através do aumento do bem-estar hedônico e eudaimônico.

(Vale a pena notar que, embora a gratidão seja considerada um fator psicológico positivo, ela não é necessariamente boa para todas as pessoas sob todas as circunstâncias – como, por exemplo, com gratidão deslocada sob condições de exploração.)

O que vem agora?

No momento, estamos analisando os diários dos pacientes para explorar como as coisas específicas que escreveram se relacionam com os benefícios observados.

(Até agora, um exame dos diários revela que os pacientes geralmente expressam sua gratidão pela família, pelos amigos e pelo clima.)

Também estamos ampliando essa linha de pesquisa mais tradicional, examinando como a gratidão pode levar a mudanças de energia humanas, conforme medido pelo dispositivo BioWell, que capta emissões eletro-fotônicas para avaliar a energia humana de diferentes órgãos e sistemas.

Até agora, descobrimos que mesmo um breve período de 10 minutos de registro no diário sobre gratidão melhora o perfil energético do coração e do sistema cardiovascular em geral.

Há muitas maneiras de cultivar gratidão. A oração também foi considerada para ajudar as pessoas a serem mais gratas. O simples ato de escrever ao que somos gratos, o método que usamos em nossa pesquisa, pode aumentar a gratidão.

Não importa qual seja a forma, simplesmente perguntar todos os dias “pelo que eu sou grato?” pode trazer consciência e apreciação para as características positivas dentro e ao redor de nós, nos ajudando a abraçar a vida como ela é com todas as suas imperfeições.

Quando a gratidão está presente em nossa consciência, tudo muda e podemos nos transformar. Ao cultivar a gratidão, nossa pesquisa sugere, cultivamos bem-estar.

Este artigo é uma tradução do Awebic do texto originalmente publicado em Greater Good Magazine escrito por Paul J. Mills e Laura Redwine.

A Soma de Todos Afetos

Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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