Eu me apego a detalhes. Sempre foi assim. Eu sou daquelas que decora o som da voz, que grava a risada, as pintas espalhadas pelo corpo, o jeito que o outro olha para o filme. Eu aprendo sobre aquilo que faz o olho do outro brilhar só pra poder sentir de perto o que o emociona, impulsiona, humaniza. Eu memorizo o toque das mãos, o jeito de sorrir com o canto da boca, o cheiro, a textura da pele. Detalhes. Sou feita deles. Vou sempre lembrar de datas como o dia em que a gente se conheceu, a primeira noite em claro, a segunda viagem, o aniversário. Vou sempre me perguntar se a rotina ainda é a mesma. Despertador que toca às 07:00, corpo que levanta às 07:40, banho, pular o café-da-manhã e por aí vai. A coleção de filmes aumentou? As idas ao Cinema estão em dia? Aquele presente, continua aí? Eu sempre fui mais daquilo que não é mostrado a todos, sempre tentei e tento descobrir coisas que ninguém se aventurou a descobrir sobre o outro. E não é por curiosidade. É essa mania de querer conhecer cada detalhe, guardar cada lembrança, sentir intensamente aquilo que o outro é e traz. Sinto o passado, o presente e o futuro. Fico com raiva se descubro que o outro já foi magoado, quero carregar no colo, no coração, no abraço. Dividir a dor, os traumas, o cansaço. Detalhes. Me fazem, mas também me desfazem quando tudo o que sobra são eles. E sobram tantos.
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