Por Luzinete R. C. Carvalho ( Psicanalista )
Li um texto certa vez que afirmava que os pais atualmente trabalham muito, e por isso não tem tempo de educar corretamente as crianças, mimando-as com presentes e sendo permissivos.
E a sugestão dos profissionais consultados para a matéria era de que os pais se tornassem mais rigorosos, com as crianças, claro.
Sugeriam que os pais fossem capazes de impor limites a qualquer custo, que quando as crianças estivessem chamando a atenção, não tivessem dúvidas de que castigar era a única medida aceitável.
Aconselhavam que os pais não sentissem culpa em punir, caso as crianças se comportassem de forma inadequada.
E que aproveitassem todo o tempo que tivessem com as crianças para impor limites, pois isso sim é educar os filhos.
A mensagem deixada é que crianças, que já recebem pouca atenção e pouco carinho, que não desfrutam da companhia dos pais, devem ser punidas sempre que os pais tiverem a oportunidade.
Não foi dada nenhuma sugestão para que os pais parassem com os presentes e tentassem oferecer mais presença.
Nenhuma sugestão para que os pais não se sentissem culpados por precisarem, ou gostarem, de trabalhar, e para que investissem em tempo de qualidade com as crianças, sempre que possível.
Nenhuma sugestão para que os pais, quando presentes, se mostrassem interessados pelas brincadeiras, pelas curiosidades, pelo mundo e pela vida dos filhos.
Nenhuma sugestão para que os pais compreendessem que o mau comportamento DEVE SER CORRIGIDO, mas com tolerância, empatia, respeito, e sobretudo, com a presença atenta e tão necessária.
Os profissionais aconselhavam que os pais usassem a privação da sua presença como forma de castigar!!
É mais ou menos assim: a criança sente saudades dos pais, e quando está com eles se comporta de forma impulsiva e extremamente carente, e a recomendação sobre como lidar com este tipo de comportamento é para que os pais se afastem, neguem passeios e brincadeiras juntos, neguem presença na hora do banho, na hora de comer, na hora de ir dormir.
A ferramenta para os pais que se sentem ausentes é ficar (ainda) mais ausentes.
O castigo para a criança que se sente só é ficar (ainda) mais sozinha.
O conselho sobre a educação de crianças, que já passam longos períodos longe do convívio familiar, é que os pais usem a própria ausência como forma de punição…
Desta forma, eu acredito que, tanto as crianças quanto os pais, já estão sendo punidos.
São punidos por viverem num mundo de ritmo acelerado e incompatível com relações humanas profundas, seguras e confiáveis.
Textos e matérias nesta linha são bem comuns.
Profissionais procurados pelos pais para aconselhamento e auxílio, de forma recorrente, orientam no sentido da privação de afeto.
Eu me pergunto até quando alguns profissionais, que aconselham sobre educação, continuarão se apropriando da culpa que os pais sentem, para recomendar ainda mais privação afetiva em forma de castigos e punições?
Até quando?
Precisamos refletir e despertar agora.
Vamos nos empenhar em conhecer as crianças, suas reais necessidades e desejos.
Provavelmente ficaremos surpresos ao descobrir como crianças trocam, facilmente, um novo brinquedo, por um passeio divertido com seus pais.
Existem outras orientações, outras maneiras, outros caminhos…
É mais útil ajudar que os pais se estruturem emocionalmente, organizem suas rotinas, reavaliem suas prioridades, diminuam suas expectativas, e encontrem equilíbrio e leveza, mesmo no dia a dia estressante.
Acredito que deveríamos refletir juntos para tentarmos encontrar meios para trabalhar e lidar com a culpa, de modo a não permitir que seja ela, a culpa, a principal conselheira na hora de educar e na hora de conviver com os filhos.
Lidar com a culpa, e não despeja-la em forma de coisas e presentes.
Sempre que tentamos compensar quem amamos, por causa da nossa ausência, com coisas e presentes, nós falhamos.
Falhamos porque a compensação vai em forma de presentes que não falam sobre nosso Amor.
Falhamos porque presentes dados ou cedidos no intuito de compensar quem amamos, carregam consigo a nossa própria frustração, e é sobre nossa frustração que tais presentes falam.
Precisamos começar a compreender que os efeitos da ausência não podem ser compensados com presentes e nem remediados com castigos.
A única maneira eficaz de compensarmos a nossa ausência (quando necessária), é através da nossa presença (quando possível).
Vamos descobrir maneiras de educar sem agredir, sem humilhar, sem ameaçar usando a distância e a solidão.
Não temos mais tempo para aumentar as distâncias e afastar quem amamos, nosso tempo já está escasso, gasto com tantas outras responsabilidades.
Vivemos tempos em que a maior necessidade é diminuir as distâncias, construir pontes, desfrutarmos da companhia uns dos outros.
Precisamos nos dedicar em estar junto da família, para que a vida não escape por entre os dedos enquanto tentamos, inutilmente, compensar o que jamais poderá ser compensado…
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Abaixo, a publicação original da página da autora.
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