Assistindo à segunda temporada de “13 reasons why”, dia desses, a seguinte fala de uma personagem me chamou a atenção e me fez refletir sobre a vida em si: “É possível deixarmos as pessoas irem embora e continuarmos as amando.” Tratava-se, no caso, de uma situação que envolvia a amizade entre duas pessoas que a distância iria separar. Mas creio que pode ser aplicado a diversas situações pelas quais passamos.
Eu, por exemplo, já tive que me forçar a deixar o outro ir e continuei mantendo-o aqui dentro de mim, com amor e carinho. Foi assim com minha mãe. Quando o câncer lhe retirava todas as forças, eu tive que dizer para ela que estava na hora de ela partir, que sua missão tinha lindamente sido cumprida, que ficaríamos tranquilos aqui. Foi um dos momentos mais dolorosos de minha vida e até hoje esse amor que nos uniu está dentro de mim.
Já tive amigos que partiram desta vida, que partiram para outros lugares, deixando de fazer parte de meu dia a dia, e que, mesmo assim, ainda são especiais e presentes em meus sentimentos. É assim com pessoas, é assim com lugares, é assim com nossos bichinhos. Pessoas vão embora, de uma ou de outra forma. Animais têm vida curta e nos deixam também. A vida nos leva daqui até ali adiante. Tudo muda.
Nossa sobrevivência depende, em muito, desse desprendimento, dessa permissão, dessa anuência que somos obrigados a dar ao que sai de nossas vidas, ao que vai embora, muitas vezes de uma vez por todas. Quando aceitamos o adeus, a gente acaba se libertando e deixando o outro livre para cumprir o seu destino, que nem sempre será junto de nós. E cá também nós ficamos mais fortes para abraçar o novo, que todos os dias vem.
Sim é possível deixarmos ir, mas continuar amando, porque aquilo que se construiu com dedicação e amor verdadeiro não sai de dentro de nós. O carinho e as lembranças do que foi especial continuarão nos mantendo vivos e capazes de seguir, rearranjando nossas emoções e os espaços que ficaram vazios, lá fora e aqui dentro de nossa alma. O amanhã nos acorda sempre, cheio de oportunidades, ainda que não queiramos enxergar. Enquanto continuarmos amando, sobreviveremos. É assim que a gente continua.
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