Confesso que já sonhei com a premonição dos problemas, ter a capacidade de antever os obstáculos, prever as ciladas e controlar o tempo e o futuro. Confesso que já questionei meu destino, acreditando não merecer a situação difícil a que a vida me submetera. Confesso que já rompi com Deus e fiz as pazes, logo em seguida, para romper de novo, logo mais. Confesso que a dor me pareceu injusta, que desejei ser outra pessoa, acreditando que as histórias alheias sempre têm enredos mais felizes do que aqueles a mim oferecidos.
E, ao confessar tudo isso, tiro um fardo enorme e incômodo dos meus ombros. Liberto-me das teias da ilusão e me dispo da arrogância daqueles que se acham no direito de serem apenas felizes, sempre, todos os dias.
E, ao me despir da ilusão, entendo que há surpresas boas e ruins ao longo da jornada. Que os momentos felizes nos tornam mais leves e os momentos de sofrimento e dor, nos fazem mais fortes, mais empáticos e mais humildes.
Olhando para trás, para o meu percurso agora vencido, leio nas entrelinhas da minha história lições inestimáveis de coragem e perseverança, as quais ignorei no momento vivido, porque a dor me cegara os olhos ao aprendizado.
Enquanto sofremos, somos sugados para o redemoinho dos acontecimentos dolorosos. Ficamos envolvidos pela dor e não somos capazes de olhar com outros olhos, de ver claramente, de enxergar uma saída e vislumbrar uma solução.
Somos engolidos pela névoa da inconformidade. E, muitas vezes, com os joelhos no chão, perguntamos: Por que eu? Por que comigo?
A dor nos impede de compreender que não somos nós os únicos atingidos pela tragédia. Em nosso “micromundo” há inúmeras outras pessoas que também sofrem pelo mesmo infortúnio; se choramos pela perda da saúde em nosso corpo, há quem sofra junto conosco pela impotência e falta de instrumentos para nos confortar adequadamente; se é a perda de um emprego que nos aflige, há dezenas de outras pessoas que serão impactadas por nossa momentânea incompetência financeira; se choramos a perda de um irmão, há mães que choram a perda de seus filhos.
Somos tão vulneráveis e nossos sofrimentos são tão semelhantes. Haverá sempre ao nosso redor um irmão que sofre, que sente estar num beco sem saída, que se vê perdido e sem perspectiva de solução. Acontece que como ficamos cegos pela nossa dor particular, não vemos nem solução para nós, nem o quanto a nossa mão é preciosa para alguém logo ali, tão perto de nós.
Parece incrível, mas quando nos dispomos a acolher o outro que também sofre em nosso abraço, é a nossa própria dor que ganha alívio. O sofrimento é inevitável. O despreparo para ele, também. A gente aprende a passar por ele a cada experiência vivida e vencida. A solução com resultados garantidos não existe. O que existe é conquistar a compreensão de que tudo, absolutamente tudo nessa vida é transitório e que nos cabe absorver as lições que só o sofrimento é capaz de ensinar, para que, ao nos depararmos com os momentos felizes, a felicidade nos encontre mais humanos, menos inflexíveis e egoístas.
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Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “A Culpa é das Estrelas”.
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