Se apega, se apega sim. O mundo já está cheio de desapegos. Cada vez mais me deparo com textos e frases preconizando o desapego. O deixar fluir, deixar as coisas acontecerem, não se prender a bens, momentos ou pessoas. Acho lindo e válido, até certo ponto. O desapego se mostra necessário em um mundo em que o apego material está cada vez maior. Em que não conseguimos viver sem o celular da moda, o carro do ano ou a roupa da vez. Desapegar é viver de uma forma mais simples, mais livre, mais conectada à essência do viver do que a bens materiais.
O desapego saudável, ao menos na minha concepção, é o que visa levar a uma vida mais real do que aparente. É aquele que busca nos tornar pessoas melhores e mais conscientes de quem somos. Contudo, vejo que o conceito de desapegar está sofrendo uma ampliação que não considero saudável, e infelizmente está se alastrando e tornando as pessoas cada vez mais solitárias e infelizes. Este desapegar de que falo é o desapegar de atitudes, consequências, e, principalmente, de outras pessoas.
O desapegar de atitudes é aquele dizer o que eu penso, quando eu penso, na forma que eu quiser. Como “estou nem aí”, posso destilar minhas impressões maldosas, inverídicas e quase sempre desnecessárias como se fossem gotas de chuva: de forma abundante e indiscriminada. As redes sociais contribuíram para isso, para essa disseminação de conteúdo que jamais as pessoas diriam pessoalmente (ou pelo menos, creio eu que não). Com esse desapego às atitudes, também não se consideram as consequências das ações tomadas. Ajo como se não houvesse amanhã, como se ninguém fosse ser atingido por minhas palavras e meus atos. Infelizmente ou felizmente, a lei do retorno existe, e uma hora ou outra seremos responsabilizados por nossos atos.
Por fim, o que considero ser o pior tipo de desapego é o desapego às pessoas. Tratamos os outros como descartáveis, como companhias voláteis, que assim que me canso eu jogo fora. Desprezamos seus sentimentos, pensamentos e opiniões, considerando que somos nós que detemos o monopólio da verdade. Infelizmente, paramos de tratar o outro com amor, empatia, compaixão e respeito. Tudo isso, muitas vezes, em nome desse desapego.
Então, fica o meu pedido: desapegue, mas não de tudo. Apegue-se ao que importa, ou, o mais importante, a quem importa. Se preocupar, perguntar se está bem, mandar aquele bom dia, aquele desejo de melhoras não te faz uma pessoa pior, muito pelo contrário. Muitas vezes por medo de não sermos correspondidos acabamos não agindo da melhor maneira que podemos, não dizemos aquela palavra de carinho ou cuidado que fica presa na garganta. No que toca à elogios, palavras de cuidado e amor, é melhor dizer do que calar. Quem sabe assim, uma geração de pessoas solitárias possa sentir que não está tão sozinha, afinal, também existe alguém ali, passando pela mesma coisa, que está pronto para lhe estender a mão.
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