Por Monge Genshô
Pergunta – A questão do Sutra do Coração da Sabedoria, gostaria de saber se ele é uma oração e se for uma oração, o Budismo Zen concorda então que as palavras podem ser mágicas ou podem causar transformações nas pessoas como os mantras ou são apenas rituais de lembrança?
Monge Genshô – Várias pressuposições na pergunta. O sutra é uma oração? Não, o sutra não é uma oração, o sutra é um ensinamento que você repete para se conscientizar dele. É isso que o sutra é. O Sutra do Coração é um resumo de uma ideia que perpassa os sutras da coleção “Prajna Paramita”, que são cerca de 600. Então é o sutra do coração do Prajna Paramita, o sutra do ensinamento que é o cerne, a essência, dos sutras da coleção Prajna Paramita. É o “Sutra do Coração da Sabedoria”, e não o sutra do coração apenas.
Orações funcionam? Funcionam sim. Na verdade, se você tiver fé, acreditar profundamente numa coisa e repeti-la com fé, ela vai funcionar. Poderia ser coca cola. Se eu acreditar que funciona, coca cola, coca cola, coca cola. Quando ninguém mais souber o que é coca cola, coca cola é um mantra e funciona. Na realidade somos nós que fazemos essas transformações. As palavras têm poder? Sim as palavras têm poder. Por que é que as pessoas dizem palavrões? Porque acham que os palavrões têm poder, que eles vão funcionar. Eu disse ontem à noite, que há anos, bastante anos, eu não digo palavrões. Nenhum palavrão. E alguém perguntou: e se o Senhor levanta à noite, bate com o dedinho no pé da cama, o que é que o senhor diz? Eu digo “burro, como tu és burro”, porque se tem alguém que eu deva insultar, sou eu mesmo. Então eu uso essa estratégia. Porque acredito que os palavrões são mantras ao contrário, levam nossa mente a más associações.
Tem um texto que eu escrevi uma vez, sobre uma idosa amiga minha, ela era espírita, e dizia sempre: “paz, luz e amor para você”. E isso era o que ela repetia para todo mundo, todo o tempo, e ela se transformou numa pessoa muito especial. O nome dela parecia com o que ela se transformou, com a imagem que eu tenho dela, “Celeste”. O que eu vejo? Que ela repetiu aquilo tantas vezes, que aquilo se incorporou nela. Há pessoas que pensam que se elas falarem palavrões elas são interessantes. Então elas dizem coisas abjetas, baixas, sujas. Achando que estão fazendo algo bom, que estão sendo interessantes ou enfáticas. Não, elas não estão sendo enfáticas. O que elas estão fazendo é trazer o que há de mais baixo para cá, para junto delas, as ideias, os pensamentos associados aos palavrões.
Originalmente o palavrão era um mero som, mas ele foi transformado através da repetição e da intenção, naquilo. As palavras como paz, luz, amor, também foram transformadas pelas pessoas, pela sua prática, pela sua repetição. Vocês têm escolha de qual é o mundo que vocês trazem para junto de vocês. Essa amiga acreditava que os espíritos de luz vinham para junto dela. Então se nós pegarmos essa imagem, nós dizemos que os espíritos de escuridão, a maldade, os criminosos, eles vão para junto dos que falam coisas insultuosas, porque onde é que eles falam a pior linguagem? Não é nos lugares onde estão os criminosos? Por que é que nós vamos usar a linguagem dos criminosos?
Então, orações têm poder, mantras também, palavrões idem, boas palavras também. E, é algo de mágico? Não, não é mágico. Nós é que transformamos essas ações em mágica. Eu dei uma prática para vocês, não foi? Falem com aquelas pessoas que ninguém olha, agradeçam. Esse agradecimento de vocês é como uma oração, e muda vocês e aquela pessoa e o mundo, então, não tem mágica nenhuma, mas é profundamente mágico.
Fonte indicada: O Pico da Montanha
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