João está comendo sushi no restaurante X, Luiza está malhando na academia Y, Antônio está se sentindo feliz em tal balada, Maria está fazendo compras em determinado shopping. Com apenas um celular na mão, e em questão de minutos, podemos saber o roteiro do dia a dia de uma pessoa. Sabemos onde ela costuma comer, onde faz compras, onde leva os filhos para passear, onde malha, onde trabalha, enfim, sabemos tudo a respeito da vida de Pedros, Marias, Luizas, Antônios. Não, não sabemos. Aliás, parece que o caminho é justamente o contrário, quanto mais expomos a nossa vida nas redes, menos estamos falando de verdade sobre nós. Você sabe que João está comendo sushi, mas não sabe que ele e sua esposa não trocaram uma palavra sequer durante o jantar, não sabe que estão há duas semanas sem se falar e que ambos já estão pensando em sair de casa. Você sabe que Luiza está malhando na academia Y mas não sabe que ela tem usado o exercício físico como fuga, que está difícil encarar os seus sentimentos, que tem se sentido sozinha e sem rumo. Você sabe que Antônio falou que está se sentindo feliz em tal balada, mas não sabe que ele chorou de saudade antes de sair de casa, que precisou tomar meia garrafa de vodka para conseguir se soltar, que acabou de terminar um relacionamento e que ainda sente muita falta da ex. Você sabe que Maria está fazendo compras, mas não sabe que a auto-estima dela está no chão, que ela vem se sentindo culpada pelos quilos que ganhou nos últimos meses e que já rodou todas as lojas e não encontrou nenhuma peça que lhe agradasse. Resumindo: sabemos superficialmente da vida das pessoas, mas desconhecemos suas crises, seus medos, sua solidão, suas culpas, enfim, desconhecemos o que os outros de fato sentem. Não estou aqui defendendo que as pessoas tem que postar nas redes sociais o que estão sentindo, aliás, considero isso desnecessário, mas desejo fazer um convite a reflexão sobre o que temos feito com os nosso sentimentos, sobre o quanto temos soterrado o que sentimos com uma enxurrada de superficialidades, sobre o quanto nos desconectamos da nossa essência na busca desenfreada pela conexão 24h. Nossa vida de verdade é o que acontece por trás dos bastidores, são as lágrimas que derramamos sozinhos no quarto, são os sorrisos bobos que brotam quando recebemos um gesto de gentileza, são os pensamentos que povoam nossa mente antes de dormirmos, é a saudade de quem já se foi, é a dor de ter um sonho arrasado, é a alegria de ter uma meta alcançada… Mas… Falta espaço para falarmos do que realmente sentimos, faltam ouvidos para ouvir sobre as nossas dores, faltam ombros para acolher nosso desespero, faltam mãos estendidas para nos tirar de onde achamos ser o fundo do poço. Faltam encontros, falta disponibilidade, falta compreensão, falta paciência e com isso, só crescem as nossas faltas. Porque no fundo a gente não precisa de 2 mil amigos, mil seguidores e 5 redes sociais, a gente precisa daquilo que não se alcança com um celular, a gente precisa é de colo, carinho, ouvidos atentos, acolhimento, compreensão. A gente precisa é de mais humanidade, mais abraços, mais sorrisos, mais presenças… A gente precisa é viver, e não necessariamente compartilhar, curtir, comentar, publicar.
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