Bebia ansiedade, em goles intermináveis numa sede capaz de me afogar.
Vivia sonhando com as histórias vividas, projetava o futuro em cenas gloriosas e deixava o presente à míngua, carente, solitário de atenção.
Já na quarta me mordia um bichinho ganancioso o coração.
Queria ter a certeza de afazeres prazerosos para os dias que viriam. Bichinho voraz que não me deixava ter paz.
Enquanto não visse preenchido cada segundo dos dias de descanso, com encontros, bares, saídas e cantorias, zumbia em meu ouvido pedidos incessantes.
E assim, aqueles momentos que deveriam encontrar em meu peito a gratidão do remanso, viravam uma peregrinação sem fim. Um redemoinho de compromissos, a me levar para todos os cantos. Os dias tão esperados eram consumidos, engolidos, sorvidos sem que eu ao menos tivesse a chance de sentir-lhes o sabor.
O domingo me encontrava aborrecida, contrariada e eu de fato acreditava que “bode de domingo” era normal, domingo era dia chato paradão… todo mundo tem depressão no domingo! Ou será que não?!
De verdade, não tenho recursos lúcidos para precisar, exatamente em que momento essa angústia começou a me deixar.
Talvez tenha sido naquela segunda pela manhã bem cedinho, em que me surpreendi cantando, abençoando minha sorte, minha vida, agradecendo meu destino, encantada com o meu caminho.
Quem sabe não tenha sido numa terça qualquer, no sorriso autêntico de uma criança, quem sabe não tenha sido a descoberta de que tudo, tudo mesmo é passageiro, que me tenha devolvido a esperança.
Pensando bem, penso que foi numa quarta. Escutando uma conversinha boa dos meus filhos no quarto ao lado, um ensinando pro outro que ser irmão é pra quem tem afeto, carinho e amor de sobra no coração.
Ou terá sido numa quinta, saboreando uma xícara de café? Aprendendo que engolir a vida num gole só torna impossível ser feliz, vida se toma em pequenos goles amorosos… de colher.
Pensando bem… faz todo sentido ter sido numa sexta. No acolhimento bem-vindo dos braços de um por de sol, na descoberta benigna de que é preciso silenciar a mente para ouvir a alma, na alegria serena que só se encontra com absoluta calma.
E se tiver sido num sábado? Imagine que surpresa! Imagine eu ter encontrado a paz numa lambida de sorvete, no ronronar de um gatinho, numa cesta de pêssegos sobre a mesa.
De tudo, de verdade, o dia em que encontrei a permissão de estar de bem comigo, o dia em si, é o que menos importa.
A festa no meu peito não tem dia, não tem encontro marcado, nem hora certa pra acordar. É a minha própria mão estendida a mim, é o milho virando pipoca branquinha, é a alegria da sorte de morar numa casa, que além de ser casa, é o meu lar!
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