Perdi a conta de quantos textos li e quis te enviar. Meus olhos marejavam sempre que via um tanto de nós dois, descritos com carinho em textos alheios. Eu sei, eu sei, eu sei, eu sou um bocado boba e dou a interpretação que quero àquilo que leio, mas alguns trechos são tão gritantes que eu sorrio. Copio o link, copio o trecho e penso em te enviar, mas deixar para lá sempre me foi a melhor a opção. Não era, mas vem sendo.

É algo tão meu recordar de coisas tão nossas. Eu cultivo com carinho toda a história, alimento com zelo para não nos perder. Não sou dessas mulheres que rasgam fotos velhas e jogam fora, sabe? Ao menos, não sempre. Sei lá, tem tanta coisa boa no meio de uma história sem final feliz. Tem tanto riso, tanta descoberta, tanto sentimento e tantas sensações que me parece cruel simplesmente esquecer tudo, rasgar tudo, fingir que nunca existiu.

Sei que nada é como antes, que a gente se perdeu em alguma esquina, por algum motivo que não arrisco dizer porque — honestamente? — não sei. Confesso que outrora remoí cada vírgula, cada pausa, cada palavrinha que foi dita numa busca incansável de entender os porquês e por quais. Até que desisti. Sei lá, acho que não tem porquês, sabe? Simplesmente era e deixou de ser. Talvez tenha sido o que tivesse predestinado para ser nesse tempo tão louco e tão pouco.

Respiro tranquila.

O coração cultiva boas memórias e eu deixo tudo guardado com carinho. Reviro vezenquando, suspiro vez em nunca. Sinto saudade tua, lógico. Sinto saudade nossa, lógico. Mas entendo que é algo que veio e foi; que esse silêncio que se estende e esse hiato que aumenta é só para nos impedir de maltratarmos uma história bonita com essas (in)diferenças todas. É impressionante o quanto que uma entrelinha mal interpretada magoa as lembranças bonitas, quase fazendo-as se perderem um pouco.

Loucura, não?

No começo eu senti um pouco de raiva, por todo a história. A raiva maior era minha, por ser tão fraca e tão boba. Eu interpretava errado nós dois e pensei que tinha sido usada, que tudo foi uma tremenda brincadeira de mau gosto e que eu caí, boba, numa história bem contada, num enredo bem montado. Depois eu consegui me livrar desse ódio todo e desfrutei quem me tornei, lembrando só do que deveria ser lembrado – a história antes da turbulência, antes das mágoas, antes das distâncias todas e silêncios muitos.

Mas às vezes, bem às vezes, eu vejo uns textos que são tão nossos que copio o link e quero te enviar. Às vezes, bem às vezes, eu esqueço que a gente já não é mais o que foi e fico sorrindo boba ao nos ver em entrelinhas alheias. Às vezes, bem às vezes, me dá uma saudade doentia da nossa história maluca e eu tenho uma vontade insana de te contar, mas nos deixo para lá.

Deixar para lá nem sempre foi a melhor opção. Mas vem sendo.

Mafê Probst

Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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Mafê Probst

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