Um pouco de poesia nessa casa cinza, por favor. Colore as paredes de azul, as janelas de verde, as cortinas com estampas. Bote uma menininha risonha sentada na porta, plante beijinhos nesses canteirinhos secos. Deixe os passarinhos cantando enquanto eles fazem seus ninhos na varanda. Cultive hortelã e manjericão nesses vasinhos pequenos e bote um pouquinho mais de sal nessa sopa!
Vá, menina! Busque Maria para cantar e João para tocar aquele velho violão. Faz tanto tempo que esse céu está nublado, essas ruas vazias. Um inverno rigoroso pousou no coração da moça. Ela perdeu o sorriso e as flores que enfeitavam o cabelo dela estão murchas. Parou de pular corda com a criançada da rua de baixo. Perdeu Antônio, seu grande amor, para a Guerra do País de Loucos. E essa gente da vizinhança, trancada atrás dessas janelas de madeira. Os velhos calados e cansados de tudo. A água amarga saindo das torneiras. As notícias férreas machucando nossos sonhos.
Vá, menina! Saia gritando pelas ruas! Chame todos! Reúna essa gente nesse nosso quintal. Vamos sentar debaixo dessas árvores, vamos contar as histórias do passado, lembrar das noites estreladas em que ouvíamos os causos da gente antiga. Coloque o bolo na mesa, faça um café quentinho. Espalhe alecrim pela casa e música pra essa gente dançar…
Tire a poeira dos álbuns de fotografia e coloque as colchas de retalho nas camas. Vamos lembrar que já fomos felizes e fortes! E que inverno, após inverno, sempre estamos aqui esperando pela primavera.
Receba todos com seu melhor sorriso e dê um abraço em quem chegar. Pois, são nos momentos mais dolorosos, que a gente deve continuar a desejar a esperança.
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