É bastante comum nos referirmos a acontecimentos futuros, sejam eles eventos comemorativos, mudanças, algum tipo de teste ou prova, ou mesmo uma experiência de puro prazer com a frase “Estou ansioso para…!”.
Esse frio na barriga e esse arrepio na espinha são genuinamente benéficos; significam que estamos alertas, envolvidos com as experiências de nossa jornada; revelam a presença de uma habilidade adaptativa às transformações inevitáveis a que seremos expostos todos os dias da vida.
Sem a presença da ansiedade, nós seres humanos, provavelmente não teríamos sobrevivido às situações tão adversas pelas quais passamos em nosso processo de evolução na Terra. A ansiedade é fator indispensável à percepção do perigo e ao desenvolvimento da capacidade de antever o futuro, planejá-lo e desejar alcançá-lo. Dentro de uma intensidade equilibrada, a ansiedade nos protege, nos previne e nos prepara para o futuro.
Entretanto, o excesso dela, quando sua presença começa a causar desconforto, sofrimento emocional ou desequilíbrio frente as demandas do cotidiano, a ansiedade deixa de ser adaptativa e passa a ser disfuncional – transforma-se numa patologia.
A ansiedade patológica, infelizmente, passou a fazer parte da vida de muitas crianças e adolescentes; tornou-se um dos desequilíbrios emocionais mais comuns diagnosticados por psicólogos e psiquiatras.
Crianças ansiosas, referem sentimentos de apreensão e apresentam reações fisiológicas, tais como tensões e dores musculares, palpitações, cefaleia, sudorese, tremores, boca seca, insônia e desconfortos abdominais. E, como não têm recursos para interpretar esses sintomas, muitas vezes tornam-se irritadas, choram por qualquer coisa, passam a apresentar dificuldades na escola, têm medo de se separar dos pais ou cuidadores.
O transtorno de ansiedade pode se manifestar em diferentes níveis de gravidade; podem ser percebidos por meio de uma simples sensação de desconforto, uma pressão no peito ou na garganta, até graves crises de pânico que podem, de fato, impedir que o indivíduo raciocine com clareza ou consiga compreender que aquela situação é oriunda de desequilíbrio emocional, geralmente provocados por episódios de stress. E, se tudo isso acontecer com uma criança pequena, esse desequilíbrio pode ser erroneamente interpretado como manha, birra ou chilique.
Mas, o que faria uma criança de 7 anos, ou menos, entrar para as estatísticas dos transtornos de ansiedade? O que há de errado com nossas crianças? Infelizmente, não há uma única resposta. Porém, felizmente, já há inúmeros profissionais de saúde e educação; e também muitas famílias, interessadas em encontrar respostas para essas perguntas; e, assim, encontrar maneiras mais equilibradas e saudáveis de conduzir a educação dos pequenos, para que possam se desenvolver e amadurecer dentro de parâmetros possíveis.
Rotinas escolares rígidas demais; alfabetização precoce; agendas superlotadas de compromissos; competitividade; excesso de estímulos; superexposição às mídias digitais; convívio com espaços urbanos inseguros; violência. Esses são apenas alguns dos responsáveis pelo aparecimento do transtorno de ansiedade na infância.
Privados de tempo suficiente para brincar e descansar, os pequenos veem-se às voltas com demandas exageradas de compromissos; muitas vezes mal veem os pais durante a semana; com frequência alimentam-se mal, comem uma quantidade enorme de alimentos prontos e processados; passam tempo demais diante das telas de TV, tablets e smartphones. A infância foi adulterada por uma rotina opressiva e acelerada. Parece óbvio que este é um cenário mais que perfeito para a instalação de transtorno de ansiedade, não é mesmo?
No entanto, os aspectos ambientais constituem apenas uma parcela das causas desse transtorno. Há também, a possibilidade de haver predisposição genética, fatores hereditários, eventos traumáticos e aspectos neurobiológicos. Dessa forma, conclui-se que o transtorno de ansiedade pode ser causado por uma combinação de fatores biológicos e interação com o ambiente em si.
O fato é que os pais não devem consumir-se em culpa diante do quadro de uma criança ansiosa. A culpa, neste caso, como em todos os outros, não tem nenhuma serventia. Cabe sim, à família, cultivar um ambiente seguro e acolhedor, onde haja preocupação em oferecer aos pequenos uma rotina bem equilibrada, dentro da qual seja garantido tempo para brincar e descansar adequadamente. Além disso, é preciso incluir as necessidades das crianças na programação da família, inclusive nos finais de semana.
Pais atentos, são capazes de perceber alterações no comportamento dos filhos, ainda que sejam discretas. Evitar a instalação do transtorno de ansiedade é muito mais aconselhado do que deixar para resolvê-la depois. No entanto, é muito fácil cair nas armadilhas de uma vida muito mais voltada para o consumo do que para a convivência.
E, por mais incrível que possa parecer, a preservação da saúde mental dos pequenos passa por ideias muito simples:
• escolher uma escola cuja ideologia “converse” com o modo da família pensar e compreender o mundo;
• reservar ao menos uma refeição do dia para reunir todos em torno da mesa (sem TV, sem celular!);
• entender que brincar não é a mesma coisa que ter muitos brinquedos;
• compreender que a falta de limites amorosos causa uma profunda sensação de insegurança nos pequenos;
• perceber que a criança precisa de um mínimo de rotina e de um ambiente organizado para se desenvolver adequadamente;
• reconhecer que todos estão passando pelo mesmo processo de adaptação, afinal, aprende-se a ser pai e mãe dedicando-se a ser pai e mãe;
• oferecer apoio diante das dificuldades e estímulo afetivo diante das vitórias;
• estar presente, de fato!
Por fim, caso a família perceba modificações significativas na maneira de agir das crianças, o melhor de verdade é buscar o aconselhamento de profissionais de Psicologia. Psicólogos especializados em comportamento infantil têm recursos para auxiliar os pais a encontrar a melhor maneira de conduzir a situação. Todo problema de saúde psicológica, inclusive o transtorno de ansiedade, se tratado precocemente, evita a ocorrência de complicações maiores futuras, dentre elas, a depressão.
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