E a gente anda por esse mundão a fora, conhece gente diferente, se depara com o novo, passa por apertos, sente insegurança, se atropela nas palavras, fala mais do que deve, silencia quando deveria falar, perde a calma, tropeça nos próprios erros, solta aquela gargalhada escandalosa, se esconde por trás das próprias máscaras, dá conselhos que não cumpre, procura um sentido pra vida, projeta um futuro brilhante, deixa coisas mal resolvidas por ai, se arrepende do que não fez. A gente tenta fazer dieta, quer ter uma vida saudável, depois come por ansiedade, bebe pra esquecer a decepção, se ilude que o outro vai mudar, perde o freio, passa dos limites, acorda arrependido. Queremos um coração em paz mas buscamos mares turbulentos, necessitamos que alimentem nosso ego, precisamos da aprovação do outro pra nos sentirmos completos, queremos atenção a qualquer custo, passamos por cima do que acreditamos para nos sentirmos incluídos. Viajamos pra ficar mais perto de nós, queremos companhia mas temos dificuldade em aceitar as diferenças, pensamos demais no nosso próprio umbigo, olhamos apenas pela nossa perspectiva, julgamos sem conhecer, apontamos no outro aquilo que em nós também é falho. Falamos muito de nós, ouvimos pouco dos demais, questionamos as escolhas do outro sem bancar as nossas. Vestimos armaduras, nos protegemos de nossos sentimentos, burlamos regras, atropelamos o tempo. Queremos tudo pra ontem, queremos colher sem plantar, queremos ser acolhidos sem acolher. Magoamos com as nossas palavras, abandonamos com o nosso silêncio. E assim o tic tac das horas nos diz que o tempo está passando… E aí ficamos com a sensação que estamos sentados, apenas assistindo a banda passar. O que temos feito dos nossos dias? O que temos feito das nossas relações? Como estamos desfrutando dessa curta passagem por aqui? Estamos todos no mesmo barco, mas com a sensação de que cada um está remando pra um lado diferente, sem saber ao certo aonde queremos chegar. Arrisco opinar que somos a geração mais “umbiguista” dos últimos tempos, a que se acha mais autossuficiente, mas em contrapartida, a geração mais carente que já passou por aqui. Nada basta, nada é suficiente, nada preenche. Queremos sempre mais: mais likes, mais interações, mais maquiagem, mais dinheiro, mais momentos pra compartilhar nas nossas redes. Mas, nos sentimos cada vez mais frustrados, mais egoístas, mais mimados, mais perdidos, mais ambiciosos, mais vazios. E nossos excessos estão ai pra esconder as nossas faltas, pra preencher os buracos que deixam feridas difíceis de serem cicatrizadas, pra nos fazer esquecer da solidão que insiste em nos visitar naquele domingo a noite em que todas as luzes já se apagaram. Talvez tenhamos perdido mesmo o rumo, talvez tenhamos esquecido que precisamos um dos outros, talvez… Tomara que a gente se encontre, se reencontre e volte a se relacionar, na vida real.

Imagem de capa: goodmomentsm, Shutterstock

Josielly Pinheiro Westphal

"Psicóloga de vez em sempre, organizada de vez em nunca. Escreve sobre coisas aleatórias e em momentos mais aleatórios ainda. Tem mania de observar tudo ao seu redor, mas tem opinião formada sobre bem poucas coisas. Aprendiz na arte de encerrar ciclos e de se abrir para novas experiências. Acredita em Deus e nas pessoas. Gosta muito do mar, de sol, da família, dos amigos. Corre, malha, faz trilha, come e bebe quando tem vontade. Sensível e durona, teimosa e manhosa: HUMANA.

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  • Obrigada pelo seu lindo texto.

    Estou buscando respostas e só encontro mais perguntas. O que verdadeiramente movimenta essa falta? Essa busca? Por que nos incomodamos tanto internamente e fugimos de quem somos?

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Josielly Pinheiro Westphal
Tags: buscando

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