eu já disse algumas muitas coisas sobre ela, mas acredito que não tenha dito sobre tudo ou como tudo começou por aqui. e hoje, em crise, decido contar a história inteira (ou pelo menos tentar).

sempre fui uma menina muito sentimental, lembro que todas as coisas eram sentidas de forma muito intensa – a começar pela febre, de lei, na véspera do meu aniversário. – ou as erupções cutâneas (furúnculos) que apareciam periodicamente em todo o corpo. a última vez que me lembro, foram diversas na cabeça – pela primeira vez, cortei o cabelo bem curto.

aos 10 anos (acredito que seja essa a idade, talvez menos) eu comecei com um comportamento muito arredio em relação à fotografia. eu simplesmente não gostava de tirar fotos. não lembro o motivo, mas lembro que não gostava de fotos. e quando advertida pela comportamento “não fotos”, chorava. a partir disso, nunca fui satisfeita com meu corpo – deixei de frequentar clubes e mesmo estando magra me sentia gorda.

chorei.

chorei muito durante todos os meus vinte e sete anos. de alegria, de raiva, de tristeza – há três anos, de depressão. ontem chorei, antes de ontem também, hoje mais uma vez.

existe um paradoxo imenso dentro de mim, onde o sentimento de falência e desperdício no mundo, entra em conflito com todas as coisas que acredito serem eficazes na luta (eu não quero viver vs. eu quero melhorar).

tudo o que me é dito eu já sei, dentro de mim moram todos os conselhos dados pelas pessoas que estão ao meu redor – a dor não é por “falta de saber” – inclusive, a curiosidade em procurar saber é algo que me tornou, além de uma mulher com depressão e ansiedade, uma mulher militante. enquanto crise, meu deleito. enquanto militância, minha ajuda.

era 2015, minha irmã e melhor amiga havia viajado para um intercâmbio.

comecei a trabalhar em uma agência de publicidade, dividia as tarefas e rotina com três amigos. um ambiente tranquilo, nada ali era tão novo pra mim. o tempo foi passando e comecei a me perceber extremamente confusa e irritada. ir para o trabalho começou a ser um fardo e me peguei chorando além do que estava acostumada. – as pressões de uma agência aliado aos problemas pessoais não me caíram bem.

em uma noite, percebi que o meu choro não tinha mais um motivo racional.

eu estava deitada no chão do meu quarto, chorando por pelo menos uma hora, sem saber sequer o porque daquilo, apenas chorava e dizia em pensamento: Deus, me leva.

o tempo passou, já era 2016.

um término de namoro, o ápice do stress profissional, uma montanha russa espiritual e MUITA dúvida sobre quem eu era, me levaram a um estado crítico. – pensei em me jogar do 14º andar do prédio em que trabalhava.

é muito difícil explicar, mas dentro de mim existia a crise de querer desistir e outra que era a surpresa por tal pensamento. liguei para um amigo (que me acompanha até hoje) e contei o que havia ocorrido. – ele me buscou em casa, me abraçou bem forte e disse que era egoísta demais para me perder (já contei sobre essa história para vocês).

até então, não era algo dito pra mim.

meus pais percebiam que algo estava errado, mas eu nunca havia falado sobre como me sentia para eles (talvez pra ninguém). até que não consegui mais. a ideia de que aquilo ia passar e que eu não precisava contar para ninguém não era mais uma opção. – era depressão.

2017, um ano com muitas conquistas e crises.

a primeira em público. com choro alto, dentro de um banheiro, desespero – 12h chorando. nesse dia me senti, por completo, falida. foi além do que consegui conter, controlar ou suportar. foi então, que com todas as palavras, contei para a minha mãe tudo o que sentia.

pensei que já havia melhorado. mas não.

após engordar 23kg, reconhecer uma compulsividade alimentar aliada à ansiedade, falta de atenção e confusão mental, vontade excessiva de dormir durante o dia e nenhum sono durante a noite, anti socialidade, irritação e desânimo completo, percebi que muito pelo contrário. não havia melhorado, mas piorado.

2018 começou com muitíssima esperança.

um grande amor, a sorte em partilhar, novo ambiente de trabalho, condições para cuidar da saúde. crises constantes – mas conscientes, a exaustão.

extremamente cansada pelos quase três anos negligenciando minha saúde mental e exortando a vida alheia, agendei psiquiatra – em alguns dias contarei toda essa história para um novo profissional (faço psicoterapia desde maio/2017).

precisava contar isso para todos vocês porque ouço constantemente que é inacreditável ligar minha pessoa, personalidade e ações, à depressão. precisava contar para que entendessem o quão grave e paralisador é essa doença e que NÃO BASTA ter fé, acreditar que vai ficar tudo bem e dar a volta por cima – porque se fosse apenas isso, sem dúvida alguma, eu já estaria curada.

aos que comigo passam por todas as crises, minha gratidão.

aos que comigo sentem todas as crises, minha estima de melhora e cura.

apesar de ser um dia de crise e de já ter chorado muitíssimo em uma única manhã, deixo a frase que minha mãe acabou de me mandar no whatsapp: “(…) seja como uma ave fênix e renasça das cinzas… sinta-se agora no fundo do poço, mas emerja logo, não deixe lhe faltar o oxigênio…chega de vida ruim, busque a cura em você mesma”.

Imagem de capa: Kosim Shukurov, Shutterstock

Bárbara Fernandes

Sempre escrevi em diários, e guardava-os todos para mim. Até descobrir que existiam mais pessoas que precisavam ler. Então, aqui estamos!

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Bárbara Fernandes
Tags: depressão

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