Luverlandio Silva

Um pouco de mim, um pouco de você; muito de nós.

Relacionar-se é algo incrível. Todo mundo deseja ter aquela pessoa do lado para todos os momentos e, negar isso, pode até lhe convencer — por um momento — de ser uma verdade irrefutável, mas não é; lá no fundo, lá no fundinho do seu coração onde apenas você frequenta, também brota um desejo maciço de ter alguém do lado para todos os pormenores, por todas as grandezas que a vida nos oferece. Eu tenho essa vontade. Você tem essa vontade. Aquela pessoa bem resolvida e desencanada também tem igual vontade. E se, por acaso, você ainda não sentiu esse gostinho, tudo bem, a sua hora vai chegar cedo ou tarde e, será maravilhoso sentir tudo isso.

É um sentimento esplêndido a sensação de conhecer alguém que desperta na gente essa vontade de dividir as alegrias, as tristezas, as euforias, os tédios que só uma entrega verdadeira e mútua que o “relacionar-se” pode nos conceber. Porque relacionar-se é bem diferente de relacionamento. Um relacionamento é terminado, é definido, o “relacionar-se” é uma ação, um verbo que tem de ser praticado diariamente.

Um pouco de mim, um pouco de você; muito de nós. Essa deveria ser a premissa de qualquer relacionar-se saudável que caminha com a pretensão de construir um futuro em longo prazo. Sempre será necessária uma troca quando duas pessoas planejam estarem juntas. E isso se aplica para os relacionamentos amorosos, como para as amizades, profissionais e, ou, familiares. A verdade é que algumas pessoas possuem a capacidade de deixar as nossas vidas mais fáceis, tranquilas e gostosas; isso tem muito a ver com a predisposição que elas possuem em agregar e, menos em nos sugar; talvez isso seja amor.

É bonito de ver aquele casal sempre se divertindo por aí, deixando evidente que essa construção é datada de muito tempo, muito convívio. Qual o segredo algumas pessoas se perguntam e, eu acredito que está na disposição que ambos possuem de se procurarem. Ambos. Sim. Parece meio óbvio de falar isso, mas, para muitos, essa ideia está um pouco distante de ser compreendida: os dois precisam buscar enriquecer a relação trazendo ideias, atividades, agrados, carinhos… Sem esperar ou, depositar, esta tarefa apenas para um carregar. Como se apenas um fosse o provedor responsável pelo entretenimento do casal.

Algumas pessoas possuem a capacidade de se acomodarem e, aguardarem, no outro, algo para fazerem juntos. Isso é tão cansativo. Enquanto um está lá planejando finais de semana, consultando os melhores roteiros para as próximas viagens, fazendo a listinha do supermercado para o jantar a dois, qual a nova série para maratonar no próximo final de semana — cada um tem sua lista para fazer a dois — quando dispensarem a balada por conta de uma preguicinha de sair de casa com a galera, o outro está a mercê da espera. Sem ação; somente reação. Para que esperar no outro qualquer e toda proposta? Tem que fazer acontecer dos dois lados.

O melhor relacionar-se acontece quando enquanto um planeja a happy hour ou cinema da quarta-feira após o trabalho, e o outro já tem programado o final de semana. Enquanto um instiga passarem o próximo feriado em Campos do Jordão, o outro a próxima ressaca daquele show esperto. Enquanto um prepara o cardápio do próximo jantar, o outro traz na agenda o telefone daquela nova pizzaria incrível que viu na internet. Relacionar-se é isso: um pouco de mim na gente, um pouco de você na gente e, muito da gente nos nossos planos miraculosos de dominar o mundo; o mundo construído pelas nossas vontades e sonhos malucos.

Imagem de capa: Aila Images, Shutterstock

Luverlandio Silva

Nasceu no Piauí e cresceu em São Paulo, mora atualmente em Santo André – SP. Apaixonado pela área de exatas, mas tem o coração nas artes e escrita; trabalha e defende o meio ambiente e, as causas naturais: sentimentos; afetos; amor.

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Luverlandio Silva
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