Fácil, nunca foi, mas os últimos meses foram inesquecíveis. Pensei que não sobreviveria a esses turbilhões de problemas que me tiraram noites de sono e tranquilidade. Medo, tristeza, ansiedade, saudade, desespero… foram sentimentos tão rotineiros que passaram a ser considerados amigos de longa data. Lado a lado, comigo: dias de sol e tempestade que só eu enxergava dentro de mim. É fácil observar o clima que envolve a gente independente daquele que é perceptível apenas para quem sente. Quando faz sol nos aquecendo somos apenas sorrisos, se faz friozinho logo nos agasalhamos com conforto e serenidade; difícil é se proteger quando o medo congela o nosso coração e a agitação da ansiedade faz de pólvora os nossos pensamentos, explosivo da nossa cabeça. Sabe como é — não sabe?, ou talvez não queira admitir essa confusão aí dentro, certo?, todo mundo passa por isso, cedo ou tarde. E não será moleza.
Tudo bem se sentir meio frágil de vez em quando. Indestrutível ninguém é. Quebramos de dentro para fora e, gesso algum é capaz de consertar o que não pode ser manuseado. Segurado com as mãos. Um coração ferido dói, mas não sangra; uma saudade que aperta e tira da gente o ar que tanto necessitamos, sufoca, mas não mata; não saber para onde ir não impede o mundo de girar, dos problemas aparecerem, das pessoas chegarem e partirem em um piscar de olhos. E pega a gente despercebidos nos deixando fragilizados, quase destruídos. Só quase, sabe, e essa é a beleza da coisa: passar por cada dor, aceitando se doer naquele momento, porque o “para sempre” sempre acaba.
Depois que passamos por uma infinidade de “eita!” após “eita!” e elas vão sendo superadas a gente fica mais leve. Com o passar das experiências aprendemos que viver sem dor é impossível e que NECESSITAMOS delas vez ou outra. Todos querem a felicidade plena, ninguém vive somente de felicidade plena. É chato. Paradoxo da vida: querer a tranquila paz de uma vida sem problemas e, se acostumar que a única forma de viver é suportar o desafio das dificuldades cotidianas. E tudo bem desabar de vez em quando com tudo isso, só não fique para baixo sempre.
Nada é constante. Talvez o emprego que lutamos tanto para conquistar não traga a esperada aposentadoria, aquele amigo de infância, com quem selamos juras de amizade eterna, resolva partir para novas aventuras sem a gente, aquele amor que tanto amamos cuidar, de uma hora para outra resolva, sem aviso prévio — ou vem demonstrando a partida sem percebemos os sinais — nos deixar. Descobrimos de uma maneira dolorosa que quem a gente ama não viverá para sempre e, nunca estaremos prontos para isso. E por mais peso que aparentemente possa ser tudo isso, suportamos para poder seguir em frente. Precisamos seguir em frente, cada vez mais resilientes as dificuldades que acometem a nossa rotina, cientes de que essa realidade amanhã será deixada para trás, com um pouquinho de saudade, que depois vira lembrança e, às vezes, nada. Às vezes vira nada.
Hoje eu posso dizer que sou uma pessoa mais forte. Não digo isso querendo demonstrar um orgulho desnecessário, ou querendo esconder o quanto já sofri. Por fora sou apenas sorrisos para quem me conhece bem, e para essas mesmas pessoas, um mosaico de feridas cicatrizadas e doloridas em dias de saudades. Talvez, compreender de uma vez por todas que a vida não é fácil, que todos carregam passados difíceis — uns mais do que outros — me ajuda nessa metamorfose que sou. Redescobrindo-me diariamente em uma nova pessoa feita dos caquinhos de mim, que venho recolhendo todas as manhãs quando acordo. Já desperto, recomponho-me, sorrio para o meu teto na certeza de que, o dia até pode ser pesado, mas não tão resistente como a capacidade de me refazer sempre um pouco mais forte.
Imagem de capa: shadow777, Shutterstock
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Pois é, bem assim mesmo. Às vezes fechamos os olhos para as dificuldades. Venho lhe agradecer pelas palavras. Serviram muito para mim, agora, nesse instante, nesse turbilhão que amanhã ao acordar, ao olhar para o teto, vou sorrir e agradecer. Opa, amanhã não. Agora também. Um abraço, muita luz.