Nairóbi é mãe e todos sabemos que mães são fortalezas, sendo que ela, mais do que tudo, necessitava de todas as forças para recuperar seu filho. Seu matriarcado durou pouco, mas o bastante para nos apaixonarmos por ela para sempre.
“La casa de Papel” é uma série de televisão espanhola, criada por Álex Pina, cuja primeira temporada chegou ao catálogo da Netflix em dezembro de 2017. Em pouco tempo, arregimentou uma legião de fãs por todo o país. A trama gira em torno de um homem misterioso (Professor), o qual recruta oito pessoas que já cometeram crimes, cada uma com uma habilidade específica, para assaltarem a Casa da Moeda e roubarem milhares de dólares.
Cada um deles recebe um codinome, para que não saibam a verdadeira identidade uns dos outros. Assim, temos, além do Professor, as personagens de Tókyo, Rio, Berlin, Moscou, Denver, Helsinque, Oslo e Nairóbi. Elas passam meses planejando e estudando a empreitada em uma mansão abandonada, para que o plano saia perfeito. Mas não existe crime perfeito – não de todo -, e os incidentes vão acontecendo, durante os dias em que o assalto se realiza.
Tókyo se apaixona pelo comparsa Rio, Denver se apaixona por uma refém e o Professor acaba se apaixonando pela investigadora Raquel. Os reféns não se comportam todos da maneira esperada, tampouco os próprios assaltantes. Embora o professor tivesse antecipado muitas formas de agir, conforme surgissem os imprevistos, estes se avolumam a um nível que ele não conseguira imaginar.
Interessante perceber que os telespectadores vão se afeiçoando às personagens do lado de fora da lei, torcendo por eles, ao longo dos episódios. Em flashbacks, são apresentadas passagens da vida pregressa de cada um deles, humanizando-os, aos poucos, a ponto de pairarem dúvidas quanto a quem realmente é vilão ou mocinho na história. E, claramente, uma das personagens mais empáticas vem a ser Nairóbi.
Nairóbi engravidou de seu namorado adolescente, que a abandonou, deixando-a só, com o filho. Sem perspectivas, entrou no mundo do crime para sustentá-lo, mas acabou presa e sem a guarda do pequeno. Sua personalidade é forte, decidida, sendo uma das que não hesitam, não se entregam ao desespero, não deixando de continuar a gerenciar a impressão do dinheiro. Sua habilidade é a falsificação de tudo o que se possa imaginar, com maestria.
Em um momento de desespero e tensão entre os assaltantes, ela corajosamente toma a direção, tirando o comando – temporariamente – das mãos de Berlin, pois, ali, ela já era a única que mantinha o foco e o equilíbrio intactos. Nairóbi é mãe e todos sabemos que mães são fortalezas, sendo que ela, mais do que tudo, necessitava de todas as forças para recuperar seu filho. Seu matriarcado durou pouco, mas o bastante para nos apaixonarmos por ela para sempre.
A vida imita a arte e vice-versa. No caso de “La casa de papel”, o que fica mais forte é a linha tênue que separa os bandidos dos mocinhos, numa realidade em que oportunidades não são as mesmas para todos ou para qualquer um. Também urge, ao longo da história, a força do amor, da esperança e da liberdade. Sem paixão verdadeira, sem um motivo especial, quase não saímos do lugar, porque, como Guimarães Rosa diz, o que a vida quer de nós é coragem. E Nairóbi é coragem da cabeça aos pés, ansiando pelo reencontro com seu filho amado, reunindo toda esperança e coragem de vida dentro de si.
Nairóbi, rainha, cuida bem do menino. Cuida bem do meu like.
Imagem de capa: Reprodução
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