Estava ouvindo uma palestra do Lama Michel Rinpoche, monge do budismo tibetano no Brasil, e fiquei bastante reflexivo quando ele falou sobre a junção entre sabedoria e compaixão. Quando as duas caminham juntas, podemos fazer o bem a muito mais pessoas e contribuir para a harmonia e o equilíbrio de quem se aproxima de nós. Estas foram as suas palavras, leia com bastante atenção…
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“A única verdadeira razão pela qual a gente deve desenvolver uma correta visão da realidade é para ajudar os outros seres. Porque a verdadeira forma que eu posso ajudar é tendo uma correta visão da realidade, é desenvolvendo sabedoria. Caso contrário, eu vou ficar chorando, eu não vou saber o que fazer.
Então, compaixão com sabedoria não gera sofrimento. Compaixão sem sabedoria gera frustração, gera sofrimento.
Por outro lado, sabedoria sem compaixão, ela fica rasa, ela não é profunda, ela é estéril, ela não dá vida a nada.
Então, as duas coisas são extremamente importantes no nosso caminho.”
Lama Michel Rinpoche
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Há na nossa sociedade uma grande distorção quanto a se compadecer dos outros. Muitos veem como algo bonito você chorar nos ombros de outra pessoa. Não é bem assim! Eu, particularmente, só acho interessante alguém chorar no ombro de outra se essa pessoa souber ficar em silêncio ou tiver sabedoria suficiente para não entrar na mesma vibração de tristeza da outra pessoa, o que é raro de se ver.
Para que possamos ajudar outra pessoa no que quer que seja, precisamos estar bem e equilibrados neste quesito. Por exemplo, não posso ajudar alguém a ser mais fiel se troco de namorada toda semana, não posso ajudar alguém financeiramente se estou cheio de dívidas e com o cartão estourado, não posso ajudar uma pessoa que esteja mancando se estou com o meu pé quebrado etc. etc. Percebe? Precisamos nos fortalecer interiormente para podermos ajudar as outras pessoas, esse é o grande segredo! Esse é o único caminho…
Essa é a compaixão com sabedoria, é eu estar equilibrado e espiritualmente estável para poder ser um apoio para o outro, não mais uma fonte de sofrimento. Por isso que os trabalhos terapêuticos são destinados a pouquíssimas pessoas, porque não basta ter compaixão, é preciso ter sabedoria para analisar cada novo paciente como um indivíduo único e cheio de peculiaridades, como diria meu amigo Raul Seixas: “Cada um de nós é um universo…”. Para adentrar no universo interno de qualquer ser humano, é preciso desenvolver a sabedoria…
E vem a sabedoria sem a compaixão. Ela acontece com aquelas pessoas que são extremamente egoístas, que pensam apenas nos seus próprios benefícios e bem estar. Infelizmente, existem muitas pessoas que aprendem grandes sabedorias que são transformadoras, mas ficam com tudo para si, não compartilham, não servem, não se dão abertura para que as pessoas expressem seus sentimentos e emoções. Por isso que essa sabedoria é estéril, ou seja, não gera vida nenhuma. Nasce, cresce e morre junto com a própria pessoa quem age dessa forma. Isso é muito triste! Inclusive eu até já falei em outros textos que de nada adianta ganhar sabedoria e conhecimento e se achar alguém melhor do que os outros, alguém superior, que atingiu “outro nível”. Não! Esse tipo de sentimento é extremamente destruidor e leva a compaixão para quilômetros de distância de nós. Não seja assim! Seja sábio. Use a sabedoria com a compaixão.
Enfim! Se você deseja se tornar um grande ser humano, que pode contribuir com o crescimento de muitas pessoas, jamais esqueça que sabedoria e compaixão devem andar juntas, entrelaçadas, elas nos dão essa verdadeira humanidade que tanto nosso mundo precisa…
E para concluir, uma frase magnífica da querida monja budista Jetsunma Tenzin Palmo, que resume tudo o que foi dito nesse texto:
“Sabedoria e compaixão são conjugadas, e é por isso que são comparadas às duas asas de um pássaro: uma sustenta a outra. À medida que a compaixão cresce, também a sabedoria e o entendimento se desenvolvem. À medida que a sabedoria vê a situação com clareza crescente, surge a compaixão avassaladora.”
Jetsunma Tenzin Palmo
Imagem de capa: Reprodução
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