Tenho a impressão que estamos nos tornando seres invisíveis, ou apenas mais um número, mais uma matrícula, mais um CPF, mais um seguidor, mais uma like, mais um contribuinte, mais um cliente, mais um… Andamos pela rua perdidos no meio da multidão, concentrados em nossas telas de 5 ou 10 polegadas não temos mais tempo para enxergar os que caminham ao nosso lado, aliás, quem caminha ao nosso lado? Não sabemos quem são nossos vizinhos, mal sabemos o nome dos nossos colegas de trabalho, sabemos muito pouco até dos que moram dentro da nossa própria casa. Mas o outro continua sendo um ser humano, que tem medos, que lida com sua ansiedade, que se sente sozinho, que entra em desespero, que se emociona com coisas bobas, que ri de nervoso, que chora de saudade, que tem dias nebulosos, que se atropela nas palavras, que não sabe pra onde ir… E o outro, às vezes, não quer se sentir apenas mais um… Quer ser olhado, quer ser cuidado, quer ser ouvido. O outro que existe por trás de uma tela de computador, de um número de inscrição, de uma matrícula é antes de tudo ser humano. Nossas relações se mecanizaram de tal forma que parece que estamos desaprendendo a viver na vida real. É mais fácil trocar likes do que sentar numa mesa de um bar pra trocar ideias e olhares. É mais fácil se relacionar com quem mal conhecemos do que com aqueles que tem o mesmo sangue que nós e moram debaixo do mesmo teto. É mais fácil postar uma foto toda editada do que mostrar nosso lado não tão admirável assim. É mais fácil ter 3 mil seguidores do que ter amigos que partilham da sua vida, das suas conquistas e fracassos. Em contrapartida, também estamos sendo tratados dessa forma: apenas mais um. Não é a toa que nosso sentimento de solidão parece ter se agigantado nesses últimos tempos, não é a toa que os consultórios de psicólogos e psiquiatras estão cada vez mais cheios, não é a toa que o número de pessoas que utilizam algum tipo de ansiolítico ou antidepressivo tem crescido assustadoramente. Fingimos que não é com a gente, que isso não nos afeta, que estamos passando ilesos por tudo isso. Mas no final do dia, quando luzes e celulares se apagam, sentimos o vazio, e vem o nó na garganta, o aperto no peito, a lágrima que já não pode ser contida, a ansiedade, o medo… Sentimos porque estamos cansados de superficialidade, de relações descartáveis, de fotos que não condizem com a realidade… Estamos cansados de negar nossos próprios sentimentos, de nos esconder por trás de uma carreira bem sucedida, de fingir que não sentimos quando na verdade por dentro estamos em pedaços. Só conseguiremos voltar a enxergar o outro quando voltarmos a enxergar-nos. Quando soubermos reconhecer que tivemos um dia difícil e não há mal nenhum em estar triste ou chateado depois disso. Quando soubermos que nossa vida é o que acontece no aqui e agora e não o que as redes sociais dizem sobre nós. Quando não precisarmos mais de curtidas, seguidores, photoshop, facetunes para nos sentirmos amados e queridos. Quando voltarmos a nos olhar com mais compaixão, com mais tolerância, com mais amor… AÍ sim conseguiremos perceber e compreender os que estão ao nosso redor. Até lá, seguimos invisíveis (e insensíveis).

Imagem de capa: Nevada31, Shutterstock

Josielly Pinheiro Westphal

"Psicóloga de vez em sempre, organizada de vez em nunca. Escreve sobre coisas aleatórias e em momentos mais aleatórios ainda. Tem mania de observar tudo ao seu redor, mas tem opinião formada sobre bem poucas coisas. Aprendiz na arte de encerrar ciclos e de se abrir para novas experiências. Acredita em Deus e nas pessoas. Gosta muito do mar, de sol, da família, dos amigos. Corre, malha, faz trilha, come e bebe quando tem vontade. Sensível e durona, teimosa e manhosa: HUMANA.

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Josielly Pinheiro Westphal
Tags: Invisíveis

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