Gustl Rosenkranz

A sogra, a nora e o banco do carona

Eu nunca entendi essa coisa de gente fazendo questão de se sentar no banco da frente de um carro, como se fosse algo especial, como se isso aumentasse a importância da pessoa. No fundo, isso para mim é sinal de imaturidade e mesmo de burrice, já que sentar no banco do carona é até mais perigoso que sentar no banco de trás.

Presenciei uma vez, em Salvador, uma cena que me deixou abismado: duas mulheres, sogra e nora, brigavam por causa do banco do carona no carro do filho/marido. A nora já estava sentada e a sogra, do lado de fora, tentava tirá-la do carro, chegando ao ponto de puxá-la pelo cabelo. A coisa terminou em barraco feio mesmo. O filho/marido só olhava com cara abobalhada, claramente envergonhado e sem saber bem como reagir.

Eu nunca entendi essa coisa de gente fazendo questão de se sentar no banco da frente, como se fosse algo especial, como se isso aumentasse a importância da pessoa. No fundo, isso para mim é sinal de imaturidade e mesmo de burrice, já que sentar no banco do carona é até mais perigoso que sentar no banco de trás.

Bom, mas voltando à briga da sogra com a nora: é claro que a briga em si não foi por causa do lugar. A coisa é mais complexa e mais absurda. É questão de marcação de território, como cachorro levantando a perna para mostrar que quem manda no pedaço é ele.

Esse “território” que é marcado nesse tipo de briga é o filho/marido, o motorista, que é instrumentalizado para satisfazer o ego doente de duas mulheres adultas, principalmente de sua mãe, que acha que tem o direito de continuar sendo a mulher número um em sua vida, que não entendeu que seu filho não lhe pertence e nunca pertenceu, não aceita sua escolha (a nora) e a vê como concorrente.

Tem mãe que cobra isso do filho claramente, apontando tudo que fez por ele, exigindo ser a número um por causa de todo o sacrifício que sofreu para criá-lo e pelo amor que dispensou, o que duvido, pois, se tivesse feito por amor, não estaria cobrando nada agora, muito menos essa bobagem de escolher lugar para sentar no carro. Tem mãe que não larga, não desapega, vê filhos como propriedade e acha que a cria tem que “pagar” uma vida inteira pelo que recebeu.

A nora que briga com sogra para marcar território, ficando de birra e fazendo questão do lugar do carona, também não é melhor. Para que isso?

Se a sogra já for uma pessoa idosa ou com alguma limitação física, nem tem o que discutir. Deve-se ceder a ela o melhor lugar para sentar e se esse lugar melhor for na frente, por ter mais espaço para as pernas, então a nora deve ir para o banco de trás e deixar a sogra sentar ao lado do filho. Ponto.

Mas, mesmo que a mãe do marido não seja idosa e não tenha nenhuma limitação física, a nora inteligente cede, deixa a sogra se sentir “a rainha da boleia” durante a viagem e lhe dá o lugar no banco da frente se a coitada for tão carente ao ponto de precisar disso ou mesmo por mera gentileza.

Claro que isso não significa que nora alguma tenha a obrigação de aceitar todas as frescuras e maluquices da sogra e permitir que ela se intrometa na vida do casal, mas é desgastante e um pouco insano ficar brigando por besteira e concorrendo por causa de banco de carro.

Aliás, se eu fosse mulher e tivesse uma sogra problemática, eu ficaria na minha e deixaria ela achar que é a principal mulher para o filho, pois eu saberia muito bem que não é assim, já que esposa se escolhe e se decide por ela, mãe não.

Não, não estou aqui desfazendo das mães. Nada disso! Mãe é mãe e (em geral) merece nossa admiração, gratidão e respeito. Mas mãe que quer realmente o bem dos filhos respeita suas escolhas e não atrapalha sua vida por causa de bobagem.

Agora, vamos falar do protagonista da história: o filho/marido. Sua postura pode ser decisiva na solução de um conflito entre sua esposa e sua mãe. Se há alguém que pode mostrar à mãe qual seu lugar, esse alguém é ele. De nada adianta ele ficar olhando envergonhado, desconcertado ou mesmo zangado se ele não se posicionar claramente e mostrar à mãe que ele cresceu, ficou adulto, casou-se, tem agora vida própria e, ao seu lado, uma esposa que ele escolheu, e que ela, a mãe, tem que aceitar isso. Se ele não conseguiu ainda se soltar das “garras” da mãe, ele deveria fazer isso agora, o mais tardar quando acontecesse a próxima cena por causa de banco de carro ou outra bobagem semelhante.

Termino com um recado para os envolvidos nesse tipo de conflito:

Queridas mães, lugar em carro não é importante, deixe seu filho e sua nora em paz, desapegue-se, mostre que é uma pessoa madura e, se você realmente ama seu filho, então não complique sua vida por causa de bobagem.

Queridas noras, lugar em carro não é importante, deixe seu marido e a mãe dele em paz, aceite os defeitos de sua sogra e lembre-se que um dia você talvez será uma, mostre que você é uma pessoa sensata e, se você realmente ama seu marido, então não complique sua vida por causa de bobagem.

Queridos filhos e maridos, não permita que lugar de carro se torne importante, cuide para que sua postura não alimente o conflito e atrapalhe sua esposa e sua mãe de viverem em paz, mostre que você não é território para ser marcado e, se você realmente ama sua esposa e sua mãe, então deixe claro que as duas devem parar de brigar por bobagem e de complicar a vida de todo mundo. Se elas não escutarem e continuarem brigando para sentar ao seu lado, peça às duas para descer do carro e vá embora sem elas.

Imagem de capa: Jacob Lund, Shutterstock

Gustl Rosenkranz

Blogueiro brasileiro residente em Berlim.

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