Em meio a essa infinidade de mensagens fofinhas que recebi e vi nas redes sociais, me peguei pensando nas milhares de mulheres espalhadas por esse planeta. Me dei conta de que, nesse exato momento, existem mulheres angustiadas diante do peso de serem pais e mães de seus filhos. Só quem cria um filho nessas condições saberá entender essa angústia.
Não é fácil olhar para um filho e vê-lo crescendo amputado emocionalmente pela ausência do afeto e da referência paterna. Principalmente quando essa mulher teve o melhor pai do mundo. Ver uma criança órfã de pai vivo dói e causa muita indignação.
Nesse exato momento, alguma mulher está recebendo um telefonema da escola do filho informando que ele não está bem e que apresenta sérias alterações no boletim e no comportamento. E essa mulher, talvez em pleno expediente do trabalho, não vai poder ir ao colégio do filho pois não pode dar motivos para perder o emprego, que, embora a escravize e pague uma miséria, é tudo o que ela tem para, ao menos, se alimentar com o básico. Há, também, aquelas que estão no trabalho pensando no filho pequeno que ficou doente em casa, queimando de febre, na companhia de irmãozinho. Imaginem o grau de angústia dessa mãe.
Essa mesma mulher, provavelmente, foi ao banheiro chorar. Ela não tem com quem contar, o pai da criança é completamente ausente. Ela está a tempo de enlouquecer, cansada, exausta, sem tempo nenhum para cuidar de si. Ela carrega o mundo nas costas, mas isso é indiferente aos olhos da sociedade. Além de tudo, ela tem que lidar com um monte de dedos que a apontam como irresponsável por ter engravidado solteira ou por não ter sido “sábia o suficiente para edificar o lar e manter o casamento”. Por onde anda o pai das crianças? Não se sabe ao certo, mas, muito provavelmente, ele parabenizou muitas mulheres hoje pelo dia delas.
Essa mulher trocaria todas as felicitações que recebeu no whatsapp por alguma atitude prática, algo que realmente fizesse a diferença na vida dela. Quem sabe, alguém que dissesse: olha, quando você não puder ir à reunião do seu filho, eu irei, se eu tiver livre. Ela está se arrastando de tanto cansaço, de tanta dor na alma, de tanta insegurança, de tanto receio, de tanto medo do futuro. Ela tem medo de não dar conta de tanta responsabilidade que ela acabou assumindo sozinha. Ela não as assumiu porque é forte, ela as assumiu porque não teve outra alternativa.
Essa mulher não quer flores, não quer mensagens, não quer bombons, não quer nada disso. Ela só quer sentir que existe alguém nesse mundo que poderia estender-lhe a mão quando ela precisar.
As palavras, o vento leva. São as atitudes que fazem realmente a diferença.
Agora, pare e pense: há algo que você possa fazer de positivo por alguma mulher que faça parte do seu convívio? Se você é pai, tem dado assistência aos seus filhos ou finge que eles não existem? Pois é, caso você seja o responsável por algum sofrimento no cotidiano de uma mulher, não perca o seu tempo parabenizando as demais. Pense apenas que você poderia estar amenizando o sofrimento de uma e não o faz.
Sei que o texto é áspero, mas, nutro a esperança de que ele inquiete alguém, uma alma que seja, e que surta algum efeito. Textos fofinhos sobre o dia das mulheres, existem centenas circulando pela internet. Contudo, não consegui fazer nada poético sobre o tema.
Imagem de capa: tomkawila, Shutterstock
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