Ah, de quantas ilusões somos feitos? Quem bem corajoso poderia responder a essa pergunta? Eu que nem sou louca, já passei por cada uma. Mas, acho que vale mais falar sobre aquilo que aprendemos do que sobre o horrípilo mergulho ao precipício que, ora sim, ora não, essas ilusões nos levam.

Há corações e corações, eu sei, mas se tem uma coisa que o coração não sabe é “compreender a ilusão”, pois ela é realmente isso que ela é: “um erro de percepção ou de entendimento; engano dos sentidos ou da mente; interpretação errônea”.

Enfim, voltando ao mergulho, nosso coração tende a tergiversar a dor, prolongar o sofrimento, alongar o metro quadrado do fundo que nos encontramos. Pura bobagem, o mergulho é um mal necessário, é um ato de coragem extrema entregar-se ao redemoinho da vida.

Um dia, do nada, nem cedo, nem tarde, mas na hora certa, olhamos no espelho e nos damos conta de que o nosso coração desasnou! Aí o âmago no peito da gente realmente percebe: caramba, como eu sou grande! E o ardiloso arroubo que nos fez despencar vira uma ironia do destino, um acontecimento necessário, comum, normal, frugal.

A gente aprende que nada acontece por acaso, sabe? Você sabe que sim, pois a vida nos dá provas disso todos os dias. É um aviso aqui, um recadinho ali, uma percepção lá e pronto: você já sabia que seria assim. Assumimos os riscos da dor, pois nosso inconsciente sabe que todos nós renascemos sempre mais bonitos.

Para florescer é preciso renascer. E só renascemos quando quase morremos. É por isso que quase morremos tantas vezes. E não estou falando da “morte morrida”, mas daquela tristeza que nos abate, nos fere, nos tira dos trilhos do caminho. É isso que a vida ensina quando nos dá uma rasteira.

Somos pequenos, mas imensos. Não é o nosso tamanho que define a luz da nossa alma. Ao contrário, conheço gente enorme que não tem luz alguma, também conheço gente pequena que clareia até a imensidão do mar com um único sorriso.

Somos fortes o suficiente para nos reerguermos quantas vezes precisarmos. E sabe, serão muitas e muitas vezes. A quimera é importante para que a gente dê esse passo ao mergulho. Tiago Iorc tem uma música muito bonitinha que diz: “e se tropeçar, do chão não vai passar, quem sete vezes cai levanta oito”.

É por aí, “quem julga saber, esquece de aprender” e mais milhões de partes dessa canção que fala exatamente do que escrevo agora. Sabemos pouco sobre tudo, sobre a dor e sobre o amor, vivemos pouco ainda, temos tanta vida pela frente.

Já ouviu falar em pachorrento? Minha avó dizia que o Rex (o cachorrinho que ela amava) era um pachorrento! Quer saber? Desejo que nossos corações sejam pachorrentos, pois isso quer dizer calmo, tranquilo, até um pouco acomodado. Não é acomodação de preguiça, tá? Afinal, ninguém merece um amor preguiçoso. É de uma forma geral mesmo, é dar leveza às coisas e aplicar isso em tudo: como levamos a vida, o trabalho, os nossos relacionamentos.

Eu sei, demora pra gente entender isso quando a dor se instala, mas como diz a musiquinha: “e quando chorar, tristeza pra lavar, num ombro cai metade do sufoco”. E não dá pra passar por cima da dor e dizer que está tudo bem quando você está péssimo.

Você já perdeu alguém que você amava muito (de “morte morrida” mesmo)? Eu já. E o que se aprende com isso? Que a vida é curta demais e a qualquer momento Deus nos leva para aprender ainda mais lá naquela outra dimensão. A gente se perde na irrupção da saudade. E a gente vive o luto (que é esse precipício que falei no início do texto).

Quando acontece algo ruim na nossa vida, seja o que for, a gente também vive um luto. De certa forma, vivemos lutos o tempo todo. Então, se aprendemos que a vida é curta e que viver o luto é necessário, a conclusão é simples: chore, chore muito, mas não demore tanto, pois há um sol lindo lá fora doido pra dourar sua pele.

Iorc termina a canção do mesmo jeito que faço agora: “o novo virá pra re-harmonizar a terra, o ar, a água e o fogo. E sem se queixar, as peças vão voltar pra mesma caixa no final do jogo. Pode esperar”.

Eu acredito, e você?

Imagem de capa: Mila Supinskaya Glashchenko, Shutterstock

Ju Farias

Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.

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