a gente espera pelo ônibus e enquanto isso cada palavra sua entra e some, se esvai dentro de mim e vai permear as dentrices que me dão vida,
e na lembrança do tudo-ou-nada que você me propõe
a gente fica assim sozinho com a porta semi-aberta sem saber a hora certa de chegar ou quem sabe sequer se
a porta
ainda vai existir
(porque as portas estão todas em mim).
tuas coisas-não-ditas ressoam em mim como fogo
e te rebato
as palavras que eu ia te dizer me preenchem
e vazam em outros alguéns
(deus é longe e o marasmo que habita em mim te grita)
mas ah, meu bem, se fosse tudo assim que nem você prega ser,
as cidades, as ruas, as vielas, e as donas de casa inclusive
andando pra lá e pra cá fazendo compras de supermercado sem nenhuma emoção,
se o mundo soubesse ao menos botar um pouquinho de sens(ação)
quem sabe eu até não voltaria pra você
e te diria sim
(mas o mundo não é bem assim)
e no fundo ninguém sabe de nada,
a gente só dança
e nesse nosso rodopiar eterno,
uma memória se faz.
vamos marcar um ponto do espaço sideral e curvar o manto da
grav
idade
sob a luz de nossos corpos flácidos e com o tempo, meu amor
as rugas vem
mas nao o ônibus
(não existem paradas pro coração que ama)
e me preencho de tudo que você não disse,
tudo que não fez,
pra então me fazer florescer sozinha,
úmida por minhas próprias vísceras
e nada mais.
Imagem de capa: hedgehog94, Shutterstock
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