As nossas crises escondem tesouros, pode ter certeza. Aquilo que, num primeiro momento, se assemelha a um desmoronamento, sempre traz, em meio aos “escombros”, excelentes oportunidades de recomeço e de redescoberta. Uma crise nunca se instala do nada, ela é o sinalizador de que algo em sua vida está fora do eixo.
Um casamento infeliz, uma depressão, uma insatisfação crônica com o trabalho, ou os conflitos relacionais como um todo, trazem verdades que precisam ser encaradas. No geral, chegamos ao auge da crise ou fundo de poço, justamente, por tentarmos ignorar aquilo que grita aos quatro cantos da nossa alma.
Ocorre que costumamos fazer cara de paisagem para aquilo que tanto incomoda. Afinal de contas, quem disse que é fácil encarar os problemas de frente? A gente tenta driblá-los, nos esforçamos para empurrá-los com a barriga e vamos seguindo empurrando o lixo para debaixo do tapete da nossa existência. Acontece que tudo tem o seu limite, então, só podemos empurrar o lixo até onde há espaço embaixo do tapete. Chegará uma hora que não será possível empurrar mais nada, nem uma folha sequer. O espaço para o “faz de conta” estará abarrotado, então, seremos forçados a encarar toda aquela tranqueira de frente.
A hora do confronto vai acontecer, uma hora ou outra. Chegará um momento em que você vai ter que olhar no olho desse relacionamento que está praticamente o sepultando em vida. Você terá que dar um jeito nele. Seja convidando o parceiro para irem em busca de ajuda para ver a possibilidade de uma reconstrução, seja optando pela ruptura dessa aliança que mais parece uma forca. O que não vai dar é para você continuar se fazendo de desentendido enquanto a sua felicidade e sua saúde emocional descambam para o abismo.
Há casos em que é necessário parar de viver arrumando atestado médico e encarar o real motivo de tanto da esquiva do trabalho. Será que você não fez uma escolha profissional equivocada? Será que aquela faculdade que você cursou ou está cursando o seduz de verdade? Pois é, se fez uma escolha desconsiderando as suas próprias motivações, a fatura da insatisfação vai chegar, é só uma questão de tempo. E a insatisfação, quando ignorada, tende a evoluir para doenças emocionais e/ou físicas. Sim, as nossas emoções silenciadas ou mal administradas sempre dão um jeito de se manifestar. Seja por meio de uma enxaqueca, de uma insônia crônica… uma depressão. Emoções reprimidas viram sintomas.
Contudo, precisamos estar atentos ao que sentimos, precisamos olhar com muito interesse o nosso caos. Quando a desordem se instala, não podemos encará-la como uma derrota, e, sim, como algo que necessita de uma intervenção urgente. É o sinal de alerta de que aquela situação não está em harmonia com o nosso propósito de vida. Será o momento de buscar um novo rumo. Geralmente, quem se dispõe a olhar com empatia os próprios desacertos, costuma encontrar, naquele cenário desolador, excelentes oportunidades de recomeço.
Lógico que as coisas não acontecem num passe de mágica, não é fácil abrir mão de algumas escolhas por mais desconforto que elas nos causem. Mas, as novas possibilidades estão sempre ali, nos acenando em meio àquele turbilhão de sentimentos.
O problema é que somos medrosos demais. Estamos sempre atentos às opiniões externas, e o que é pior, opiniões de pessoas que nem se importam com a gente, muitas vezes. Temos uma grande dificuldade em nos silenciar para os barulhos de fora, e, com isso, acabamos ignorando aquilo que fala tão forte à nossa alma.
Eu sei do que estou afirmando. Foi em meio à crise do meu casamento que decidi cursar a faculdade de Psicologia, uma grande paixão desde os tempos da puberdade. E, foi com o divórcio que me dedique à escrita, minha paixão visceral. E sei que é um caminho sem volta, me sinto abraçada por minhas vocações. Sigo, apaixonadamente, a minha estrada com aquela sensação de ter me encontrado na vida, finalmente.
Olho para trás e agradeço por tudo o que deu errado, afinal, não fossem os meus desacertos, eu não estaria vivendo essa satisfação indescritível de dar vida àquilo que nasceu comigo. Exercer os meus dons e as minhas habilidades me dão a certeza de que a minha vida está fazendo sentido. Essas oportunidades surgiram em meio ao caos, não nasceram em tempos de paz.
Imagem de capa: Stephane Bidouze, Shutterstock
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