Jéssica Pellegrini

Você não é a última bolacha do pacote.

E mais uma vez, eu acreditei que seria para sempre…

Não foi o nosso tempo, não era o nosso caminho. Nos perdemos em algum momento, talvez tenhamos tropeçado em algumas pedras e, posteriormente, caímos no abismo. Tentamos nos equilibrar, entrelaçamos forte as mãos, não queríamos nos soltar, mas acabou. Seguíamos pela mesma estrada, gostávamos de admirar o horizonte, o céu transparecia uma confiança de que o paraíso vai além do que os olhos podiam enxergar. E, bem, eu cheguei a acreditar que esse seria o nosso limite. Mesmo sem termos conhecido uma vírgula durante o nosso trajeto, o destino foi cruel e nos apresentou de cara o ponto final.

A nossa história nunca foi um exemplo de casal perfeito. Assim como em qualquer caso de amor, tínhamos as nossas diferenças e desavenças. Brigávamos, nos desentendíamos, sentíamos ciúmes e ficávamos de cara feia quando o outro fazia algo que não nos agradava. Na frente de outros, apenas sorríamos. Gostávamos de preservar a imagem do nosso relacionamento, exposições gratuitas nunca foram saudáveis para uma vida a dois. Em quatro paredes, tínhamos uma fúria descontrolada de desejo e tesão, mas em ambientes externos, sabíamos nos comportar. Aliás, eu me esforçava bastante.

Com você, o encontro era sinônimo de êxtase. Eu perdia o juízo, a vergonha e todas as peças de roupas. Eu sentia um orgulho imenso por estar ao seu lado. Era um prazer te apresentar para todos os meus amigos e familiares, assim como poder beijar a sua boca na hora que eu bem queria. Que na realidade, era o tempo todo. Uma química gostosa, um frio na barriga misturado com um tesão arrebatador. Eu confiava em você, acreditava nas suas palavras e em todos os planos que fizemos desde que nos conhecemos. Eu te entreguei o melhor de mim e você me deixou completamente despida de receios, medos ou traumas. Eu esqueci do meu mundo e mergulhei de cabeça no seu. Foi como pisar com o pé direito, encontrar um trevo de quatro folhas, olhar no relógio e me deparar com números iguais. Você chegou como um bilhete premiado de loteria, uma alegria contagiante e inovadora, até o momento de validá-lo e eu descobrir que ele era falso.

O meu mundo caiu, eu me joguei no chão e as lágrimas escorreram incontrolavelmente. Era como ver os meus sonhos escorrerem pelo bueiro, literalmente, e não poder fazer nada. Lixo, assim que eu me senti e assim que eu te descobri. Descartável, fedido e imundo. Eu tentei te reciclar, mas a nossa relação nunca foi uma via de mão dupla. Sabemos que um lado sempre ama mais, mas empurrar com a barriga é coisa de gente covarde. E, não, eu não sou fraca como você me julga. Eu tentei, de coração aberto, te fazer feliz. Me preocupei com os detalhes, não medi esforços e fiz do possível ao impossível.

Talvez, você não deve fazer ideia do quanto é difícil nos doarmos por alguém que não sente o mesmo. Ou, de repente, por alguém que perdeu o interesse, que errou inúmeras vezes. Eu fiz a minha parte. Te escutei, tentei ser compreensiva, te desculpei, passei por cima de todo o meu orgulho e vaidade. E o que você fez com todos os meus sentimentos? Pisou em cima. Igual você faz quando vai entrar na sua casa: você esfrega os pés no tapete, com intenção de deixar nele todas as impurezas e sujeiras. Comigo você fez pior. Você não teve o cuidado de pedir licença ao entrar, tirou os sapatos para me fazer acreditar que em você habitava algum tipo de honestidade. Você me parecia uma pessoa de caráter. Eu deixei um desconhecido fazer morada na minha casa, no meu interior. Eu não te expulsei, muito pelo contrário, eu te dei toda hospedagem. Comida e roupa lavada. E você mudou-se para a minha vida, permanecemos no mesmo teto, dividimos todas as conquistas e derrotas. Assim como as refeições, era você quem sentava diariamente na minha frente. Me olhava nos olhos, me comprava com presentes baratos e palavras poéticas. Você sempre falou demais e fez de menos. Agora chegou a minha vez…

Você me perdeu. Perdeu alguém que muito te amou, pouco falou e fez sem esperar nada em troca. Eu cansei das suas mentiras, omissões, desculpas esfarrapadas. A minha paciência se esgotou, a minha enxaqueca piorou, a minha gastrite atacou. Você só me faz mal, repare a que ponto chegamos. Você destruiu a nossa vida, os nossos objetivos, toda admiração ou respeito que eu tinha por você. Agora eu sinto vergonha, não por ter me dedicado tanto por alguém que nunca mereceu, mas principalmente, por olhar para você e enxergar o que você realmente é. Não o que você me apresentou, não o que você tanto me falou.

Você me apresentou dois lados, mas na realidade, eu aprendi que ficar sozinha é melhor do que estar com alguém que não sabe o que quer. Seria mais fácil assumir e não fugir, como você sempre fez. Mas não, você sempre opta pelo prático, mais fácil. Sendo assim, estou fazendo o mesmo que você. E, caso se arrependa e queira voltar, saiba que eu tranquei as portas e troquei as fechaduras. E, se depender de mim, ficará como você sempre quis…

Batendo de porta em porta, até o dia que alguém cometer o mesmo erro que eu. Te aceitar de primeira por cair na sua ótima lábia e, na sequência, te expulsar por incompetência de amar.

Afinal, quem muito quebrou a cara, finalmente aprendeu o que merece.

E, convenhamos, você está longe de ser a última bolacha do pacote.

Imagem de capa: J Walters, Shutterstock

Jéssica Pellegrini

Nunca confie em uma escritora confusa e romântica. As controversas entre um texto de amor e outro de desilusão, podem causar questionamentos pessoais. Consequentemente, sequelas mais graves.

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