André J. Gomes

Regra de segurança número um: mantenha distância de quem vive perto de explodir.

Com todo o respeito, gente que estoura fácil me dá vontade de sair correndo. Não gosto, não. Todo sujeito orgulhoso de ter o pavio curto me parece uma besta, um asno, um animal incapaz de controlar os próprios ímpetos. Alguém que me causa pânico e me faz querer distância de sua presença.

Lamento lá no fundo que ainda se confunda uma postura tão somente estúpida com “personalidade forte”. Ao contrário, gente que não controla a própria raiva ou não domina uma paixão momentânea sofre de uma fraqueza essencial e ponto. Quem diz que “fulano é genioso” para se referir a alguém destemperado e briguento não sabe o tamanho da besteira que fala.

Aliás, eu não sei quem é pior: o gênio que não consegue refrear seu impulso raivoso ou o picareta que sai por aí anunciando ser incapaz de sentir raiva. Um é verdadeiro demais e o outro é falso, descaradamente mentiroso e dissimulado.

Ninguém que esteja em dia com as suas faculdades mentais é capaz de não sentir raiva. Nem o Papa, o Dalai Lama e a mais santa de todas as criaturas boas deste mundo escapam de um sentimento ruim vez em quando. Acontece que essas almas evoluídas se tornaram capazes de reconhecer suas emoções negativas e transformá-las em outra coisa. Ou você acha mesmo que um monge budista tropica numa pedra imensa,
estoura o dedinho e seu primeiro sentimento é de alegria? Eu aposto que não. Ainda que ele não demonstre, seu impulso imediato é xingar a mãe da pedra. Depois passa, ele controla a raiva e fica tudo certo.

Todo mundo sente raiva de alguém ou alguma coisa uma hora e outra. Está na natureza do ser humano. É que a gente lida com a ira de modos diversos. Cada um do seu jeito.

Aqui do meu canto, no exercício da minha liberdade de pensamento, eu não gosto de quem tem o pavio curto nem de quem se faz de besta e esconde o próprio pavio. Gente dada a disfarces. Para mim, um e outro não sabem lidar com a própria raiva. Um tem orgulho de exibi-la, outro não tem vergonha de disfarçá-la. Os dois são bombas ambulantes sempre perto de explodir. De um e de outro, por simples questão de segurança, eu prefiro ficar bem longe.

Imagem de capa: WAYHOME studio, Shutterstock

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

Share
Published by
André J. Gomes

Recent Posts

Falecido Agnaldo Rayol emocionou vizinhos ao cantar ‘Ave Maria’ da varanda durante pandemia; assista

Nesta segunda-feira (4), o Brasil se despede de Agnaldo Rayol, que faleceu aos 86 anos…

18 horas ago

Última apresentação de Agnaldo Rayol foi eternizada em vídeo; lúcido com voz potente

O cantor Agnaldo Rayol, uma das vozes mais marcantes da música brasileira, faleceu na madrugada…

19 horas ago

“Cozinharam nosso cachorro”: tutor denuncia negligência em pet shop após perder cadelinha

A perda de Filó, uma cadela da raça bulldog francês de cerca de dois anos,…

3 dias ago

Chefe explica “teste da xícara de café”, método decisivo usado em entrevistas de emprego

No competitivo mercado de trabalho, a preparação para entrevistas de emprego costuma envolver currículos impecáveis…

3 dias ago

Você sabia que dormir abraçado ao travesseiro pode indicar sua personalidade?

Você já parou para pensar no motivo de dormir abraçado ao travesseiro? Esse hábito comum…

4 dias ago

Filme da Netflix retrata a luta de uma mãe e vai te emocionar com uma dose de esperança

O cinema consegue traduzir sentimentos e vivências que, muitas vezes, vão além das palavras. No…

4 dias ago