Confesso que tenho uma certa preguiça do jargão “Eu decidi esperar”, muito comum nas redes sociais. Como assim? Não seria mais coerente a pessoa entrar em ação em busca do que deseja? Sabe, isso tem cheiro de comodismo temperado com falta de senso de realidade. É a típica passividade de quem não tem coragem de arregaçar as mangas e lutar pelos próprios objetivos. Então, prefere esperar que algo caia do céu ou que Deus ou o Universo entregue de mãos beijadas aquilo que ela deseja.
Ah, isso também se aplica aos relacionamentos amorosos, viu? Eu compreendo que não é possível planejar um relacionamento amoroso como quem planeja a compra de um carro. Entretanto, a pessoa precisa fazer o mínimo para facilitar esse processo. Alguém que investe em si próprio, é uma pessoa interessante, mesmo que não tenha uma aparência de arrancar suspiros. Quem tem vida própria e orgulho da própria existência, é alguém que desperta atração e fascínio no outro. É que, lamentavelmente, existem pessoas cuja motivação para viver resume-se em encontrar alguém para se relacionar. Diante disso, nada fazem de interessante por si mesmas, aí complica, não é?
Nada acontece sem ação. Não podemos confundir paciência com comodismo. Ter paciência é entender que existe um tempo certo para cada coisa acontecer. É compreender que existe um lapso temporal entre o plantio e a colheita. Contudo, entre essas duas fases existem várias ações que envolvem: regar, podar, retirar as ervas daninhas, proteger a planta de determinados insetos peçonhentos, etc. Em contrapartida, o comodismo está relacionado à inércia quase que absoluta. A pessoa não faz nada em prol do que deseja e acredita, que, num passe de mágica, ela será agraciada, simplesmente, porque ela é merecedora.
A Bíblia diz que a fé sem obras é morta. Em minha crença pessoal, acredito que Deus se alegra quando decidimos participar das dinâmicas dos milagres que tanto pedimos. Não porque Ele precisa de nossa ajuda, e sim para percebermos que, muitas vezes, consideramos impossível algo que está ao nosso alcance e que não percebemos porque o medo embaça a nossa visão.
Dar um pequeno passo, ainda que vacilante, em busca daquilo que tanto desejamos é o início de um empoderamento que cresce a cada vez que optamos por não recuar. E as portas vão se abrindo e os nossos medos vão ficando cada vez mais tímidos. Não é possível evolução sem enfrentamento, sem esforço, sem suor, sem foco e sem disciplina. Isso não é frase clichê, é uma realidade inquestionável.
A vida é para quem corre atrás, não de quem, passivamente, espera.
Se, quando éramos bebês, tivéssemos desistido de andar na nossa primeira queda, estaríamos até hoje engatinhando pelo chão. Entretanto, como não nos importávamos com os julgamentos de quem quer que seja, insistimos. Alguns evoluíram ao ponto de correrem maratonas internacionais. Nós carregamos as sementes de muitos dos milagres que queremos, elas estão dentro de nós, no entanto, muitas vezes, preferimos buscar fora, subjugando a nossa força e menosprezando a nossa capacidade.
Outra coisa, aquilo que é conquistado por nosso mérito é infinitamente mais gratificante do que aquilo que recebemos de mãos beijadas. É como se receber algo sem fazer por onde nos lembrasse do quão folgados somos. Soa como favor imerecido. Não estou fazendo apologia ao orgulho ou à arrogância. Lógico que é muito bom receber presentes, refiro-me àquilo que poderíamos fazer, mas, nem sequer tentamos, daí, o outro que não é, em nada, mais qualificado que nós, vai e faz por nós.
Como, lindamente, canta Geraldo Vandré: Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Imagem de capa: gostua, Shutterstock
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