Luverlandio Silva

O afeto está presente nos detalhes do dia a dia

De segunda a sexta, eu acordo às cinco horas da manhã. Madrugada, na verdade. Hoje não diferente como de costume, meu despertador gritou, categoricamente, às cinco horas: levanta! Ignorei. Dez minutos depois insistiu para que eu levantasse. Abri os olhos. Sonolento. As cinco e quinze não pude mais fugir — saltei da cama com vontade de nela permanecer. Celular na mão para antes de qualquer coisa, mandar um bom dia para o meu amor que, nesta noite que passou, dormiu em sua casa, me deixando apenas com a saudade do seu abraço e perfume natural que para mim é sonífero. Eu poderia dormir com ela sete dias por semana; pensamentos diários como esse já são corriqueiros. Acalma a bagunça dos meus pensamentos — penso, lembrando, ainda sobre o exalar de suas pétalas. Quem desliga o despertador sou eu, sem “brigas”, empurrando um ao outro o dever de desliga-lo. Banho.

No caminho do trabalho recebo um bom dia cheio de carinho. É do meu amor. Ela levanta mais tarde. É o momento mais feliz da minha manhã, a primeira troca de mensagens com ela dizendo que sono, que preguiça, que saudades… daí, o dia enfim, começa. Agora faz sentido o meu sorriso caloroso para a tela fria do celular — jamais traz com mesmo apreço o carinho dos olhos dela. Dizem que o primeiro pensamento que temos ao acordar é o mesmo de quando vamos nos deitar. Acredito que não é — apenas! — isso; porém, é o único pensamento que dorme com a gente, passando a noite inteira que Deus nos deu do nosso lado. Não apenas no início; tampouco no final. Durante as vinte e quatro horas.

Às vezes, na empresa, dão risada porque na hora do almoço eu tiro uma foto do que estou comendo. Se for gostoso, ou, ser um prato que ela gosta, faço um verdadeiro book. Transformo-me em fotografo profissional de comidas. Arranjo a mesa, enfileiro talheres. Afinal, qual a graça de comer e não causar uma vontadinha nela sobre meu prato?, só para provocar uma raivinha, uma gargalhada seguida de “você me paga”. Depois eu pago vontade com as fotos-maravilhosas-e-melhores que a minha companheira profissional também me manda. E dividimos cafés, almoços, jantares assim, enquanto a distancia ainda é presente. Ausentes, um do outro, nunca estamos.

Para dizer que o dia foi puxado e que vencemos, dizemos um ao outro: enfim, acabou. Deram dezessete horas, mando. Não é dar satisfação, é compartilhar os acontecimentos por mais banais que possam ser. E sabemos que o nosso trabalho foi um sucesso, compartilhando os momentos que se seguem. No caminho de casa passo no supermercado. Abasteço as compras da semana, que falta na dispensa. Completo com chocolate. Não qualquer chocolate, mas o que ela ama. Claro. Na prateleira dos cuidados pessoais vejo um kit de esmalte que ela usa — ou usou —, não sei se ela está precisando, mas compro mesmo assim. Mulheres adoram pequenos mimos — homens também. Ela vai gostar. E eu gosto de vê-la bem. Seu bem me causa uma sensação boa. Abasteço meu coração com a sua alegria.

Saber escutar uma musica e pescar momentos das letras é uma arte. Ligo o som do carro e vou escutando as musicas e, vez ou outra, uma se encaixa perfeitamente na gente. Gravo com o celular e mando para ela. Estou pensando em você, “bbzinho”, escute. Dentro desse carro transformo-me em seu cantor particular e, componho letras só dela por cima das musicas que tocam de fundo. Meio bobo. Mas amar é permitir-se ser bobo, também.

Cozinhar é um deleite, principalmente quando a mesa não é só para a gente. Eu preparo cada prato com os temperos escolhidos a dedo. Um a um. Para compor um prazer culinário inesquecível, apesar de simples. Sempre. Uma mesa, duas cadeiras. E saio para buscá-la e trazê-la para casa. Jantamos, sorrimos, nos transbordamos. Hoje à noite a minha companhia não será só em pensamento, já sinto o seu abraço antes mesmo de ser abraçado.

O amor existe por si só, mas o afeto diário é sempre o percurso para alcançá-lo. E o amor é a construção de atitudes, sentimentos, agrados simples que a gente se dispõe em fazer sem que, esperamos ter de volta. Não são os grandes feitos que marcam, mas a singularidade do que é trivial e alcançado com pouco esforço e, muito entendimento que para a felicidade existir, para o amor existir, é preciso coexistir mais da gente na vida um do outro.

Imagem de capa: Pressmaster, Shutterstock

Luverlandio Silva

Nasceu no Piauí e cresceu em São Paulo, mora atualmente em Santo André – SP. Apaixonado pela área de exatas, mas tem o coração nas artes e escrita; trabalha e defende o meio ambiente e, as causas naturais: sentimentos; afetos; amor.

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