Luverlandio Silva

A gente aprende a fazer feliz quando somos ausência.

Não há nada mais gratificante do que ver quem a gente ama, feliz. Constantemente, feliz. Não necessariamente do nosso lado, mas em nossa ausência. Feliz por si só. Onde quer que esteja. Com quem for que esteja.
Acontece que a gente não é o centro da felicidade de ninguém, a não ser das razões dos nossos próprios sorrisos. E isso é importantíssimo de ser compreendido: felicidade só é verdadeira quando vem de dentro e, o que vem de dentro, é alheio às pessoas que nos envolvem.

Todo mundo é capaz de ser feliz e, creditar os próprios risos a necessidade da presença de alguém é, aos poucos, prender-se; perder-se de si próprio. Felicidade é a liberdade de sorrir sem hora, local e, qualquer presença além da autenticidade da nossa.

Somos momentos a todo instante. Somos presença, outras ausência na vida de quem amamos. Até a nossa sombra não caminha vinte e quatro horas por dia do nosso lado. Acontece que, antes da nossa presença, existiram — e existem! — outras pessoas na vida do nosso par. Ela foi feliz antes da nossa companhia. Ela será feliz após a nossa companhia. O riso dela não é nosso. A gargalhada dela não é nossa. A dor de barriga de tanto rir nem sempre é nossa culpa. Mas, há momentos que a alegria é compartilhada só com a gente. E essa alegria é tão rotineira do nosso lado, que se transforma em felicidade plena. Felicidade que quer andar de mãos dadas com a nossa. Não dependerá de estarmos juntos como unha e carne, para estarmos onde e somente importa: no coração um do outro.

Tem gente que se dói só de imaginar o riso que se ama, rindo longe. Quando o riso solto é causado por outra pessoa. Besteira. Desejar ser o único motivo da felicidade de alguém é egoísmo. Não é amor. Por isso começa os desentendimentos, os ciúmes, as neuras… sem razões claras.

Não têm motivos para desejar o silencio das emoções de quem a gente ama, quando não somos os protagonistas da sua euforia. Somos mais um fazendo parte em seu coração, não o único. Não o primeiro, não o último.

A felicidade distante de quem a gente ama não é passagem área para voar para longe da gente. Porém, se voar, que seja assim. Quem é feliz longe e escolhe ser feliz do nosso lado é presente da vida. Ganhamos duas vezes: a primeira por ver o nosso amor alegre em nossa ausência física, a segunda por vê-la voltar para o nosso lado. Não somos a única opção, somos a escolhida. Não somos o que sobrou, somos o melhor dos confortos.

Somos inteiros, a nossa felicidade completa-se na gente. Quando duas pessoas estão felizes e somam-se as suas felicidades, há um transbordo contínuo do que é durável. Porque o fogo só queima na presença livre do oxigênio. Ausente à fluidez e ele apagará. Amor é fogo e precisa de liberdade para respirar. Deixar a porta aberta para o outro ir ser feliz é, também, deixá-la aberta para o seu retorno sorridente, leal e companheiro.

Imagem de capa: Maksim Ladouski, Shutterstock

Luverlandio Silva

Nasceu no Piauí e cresceu em São Paulo, mora atualmente em Santo André – SP. Apaixonado pela área de exatas, mas tem o coração nas artes e escrita; trabalha e defende o meio ambiente e, as causas naturais: sentimentos; afetos; amor.

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