Fui viajar e acredite, a internet não importou tanto assim. Confesso, pra uma heavy user como eu foi uma bela desintoxicação. Esqueci de pagar a conta do provedor do meu site, atrasei pautas para editores, já que por alguns dias, a minha presença “nas internê” já não era tão crucial. Nenhum desrespeito a editores ou leitores, eu juro, não era isso. Mas a vida real me chamou lá fora, exigiu a minha atenção. E quando a vida chama com tamanha intensidade, curtir publicações fica menos importante que curtir momentos. Vocês entendem, não é?
Eu fiquei offline porque o sol insistiu em brilhar lá na rua. Mudei a minha localização geográfica para um país que vive feliz com muito pouco. Ou talvez “pouco” tenha sido um valor distorcido na minha vida de acumuladora. Claro que tive que acumular dinheiro, para poder acumular histórias em outros cantos do mundo. Mas acumular roupa suja, joelhos encardidos e amizades novas me pareceu uma atitude de valor inestimável nos meus dias na Indonésia. Sendo assim o Wi-fi foi usado quase que exclusivamente para avisar a minha família de que eu estava feliz e com saudade e talvez compartilhar uma foto aqui ou outra ali. O apelo visual foi uma ferramenta utilizada quando me faltaram palavras para descrever a alegria que vivi.
Eu fiquei offline porque a conexão com templos era impossível de ignorar. Ou porque macacos selvagens tinham mania de roubar celulares, então por muitos momentos ele ficou guardado por precaução. Fiquei sem bateria incontáveis vezes, depois de tentar de forma frustrante tirar fotos e fazer vídeos que fizessem justiça ao que meus olhos presenciaram ao vivo, e falhei em todas as vezes. Fiquei sem bateria no corpo também, porque ser feliz cansa. Embaraça o cabelo, que passou a cultivar dreadlocks que levaram dias para serem desfeitos. Talvez uma dica do vento dizendo pra não me preocupar com o alinhamento das coisas, que a vida é mesmo um emaranhado de sentimentos, sonhos, angústias, paixões, e que tudo isso não é páreo para condicionador e pente.
Fiquei offline porque as pessoas à minha volta exigiram atenção. Gritante e espalhafatosa atenção. Com suas peripécias malucas, histórias incabíveis e impublicáveis. Larguei o celular pra pegar na mão de amigas, abraçar novos conhecidos, viver novas paixões e reencontrar comigo mesma. E eu adoro reencontrar comigo mesma. Larguei o celular porque ele não cabia na carona de uma moto, ou dirigindo um carro com 9 meninas lindas, na mão inglesa, que é a contrária daquela que aprendi, enquanto tentava falar “buzinês balinês” numa terra que não entende o uso do pisca. Abri mão dos eletrônicos porque eles não são bem vindos no mar, e precisava das mãos pra pegar conchas, admirar corais, e tentar (inutilmente) não escorregar de pedras nas cavernas que descobri. Precisei das mãos para fazer uma prece de gratidão a cada passo do caminho. E abrir uma cerveja Bintang a cada novo tropeção.
Fiquei offline por necessidade, mas também por escolha. Perdi aniversários de amigos, momentos dramáticos na política, não respondi e-mails importantes, e chateei muita gente por falta de retorno. Me perdoem. Entretanto, não foi por mal.
Às vezes a vida pede “presença presente”, ativa, contribuinte e alerta na vida real. Talvez são os momentos em que a gente se importa mais com estar vivo do que estar online.
Agora tudo volta à “normalidade”. Com o coração pulsando pela próxima oportunidade de me desconectar do mundo, e me reconectar com o melhor de mim. Essa conexão sim, eu curto muito, e compartilho.
Imagem de capa: tonkid, Shutterstock
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