O novo sempre dá um friozinho na barriga. A gente não sabe o que esperar e, isso, às vezes, é desesperador. Hoje temos escolhas a se fazer para as mais distintas e variadas dúvidas para se pensar. Tem dúvidas para todas as idades, raças, gêneros, classes. Dúvidas para todos os gostos. Desde aquela compra rápida no supermercado até o que fazer da vida que, muitas vezes, mal começamos e estamos desesperadamente em busca de uma resposta pronta. Na vida real, que acontece aqui e agora, não tem um botão pause para apertarmos e pensarmos no que decidir. É preciso decidir enquanto se vive. Decidir nada fazer. Decidir fazer. A vida é feita de decisões quer queira ou não. A gente é a soma das nossas decisões.
Antigamente as coisas eram mais práticas. Não havia tantas opções, então era fácil decidir. Era café da manhã, almoço e janta. Três refeições; não tinha muito que inventar, agora é pelo menos seis — e ainda! — equilibradas em macros e micronutrientes. No supermercado têm opções light, diet e tradicional. Com ômega três, seis, nove…, versões zero gordura, zero açúcar, com açúcar mascavo. É preciso ler os rótulos para não errar. Erramos sempre. Lide com isso. E, nem por isso, a gente morre de fome. No máximo engordamos umas gordurinhas ou, perdemos outras na balança.
Entrar em uma grande empresa e se aposentar nela era a regra. Nossos pais fizeram isso e, recomendam o mesmo para a gente. Era preciso apenas ter o ensino médio e dar mole passando pela calçada de uma multinacional ou nacional mesmo: pegavam pelo braço, assinavam a profissional e é CLT até aposentadoria. Hoje, raro a galera passar mais de três anos na mesma empresa, quiçá se subir brevemente de posição. De júnior a gerente em um ano, não em quinze. Troca-se de emprego na primeira oportunidade, são tantas — mesmo em uma época de crise — as possibilidades, não é mesmo? Quando não dá certo e erramos nessas trocas rotineiras?, desemprego. Recolocação; por mais tempo que demore, cedo ou tarde, recolocação.
Até a “tradicional” família perdeu a configuração padrão. Homem, mulher e filhos é apenas uma configuração de famílias lindas por aí. A regra é ser feliz. O certo é ser feliz. O erro é não amar, por amar. A necessidade do casamento caiu. Quem quiser casar, case. Quem não quiser, junte-se enquanto for bom. O erro é acreditar na burocratização do relacionamento e, esquecer, o relacionar-se. O erro é prender-se no relacionamento. O certo é viver o relacionar-se. Então esqueça o medo de viver o seu amor do seu jeito. Com alguém ou sozinho o importante é se jogar sem medo de errar.
Para ser feliz antigamente era só seguir o padrão da época. Para ser feliz hoje, é mais suado: aumentou a diversificação. Com a alta das escolhas, o medo dos erros. A necessidade da perfeição. Não é o erro propriamente dito, mas o julgamento alheio. Parece que há uma cobrança para a perfeição. Errar?, nunca. É proibido — não. É balela, na verdade. A mídia joga em nossas caras vinte e quatro horas por dia o quão bom e necessário precisamos ser. Nascer, antes de chegar à adolescência adquirir fluência em inglês, antes de concluir o ensino médio, saber a graduação e faculdade que irá cursar, antes de concluir a graduação sem dependências, carteira assinada e carro zero km comprado, quitado. Não é bem assim.
Não somos apenas a perfeição dos nossos acertos. Pelo contrário. Somos as experiências dos nossos erros. Das renúncias que corajosamente decidimos tomar. Crescer é o privilégio das escolhas que tomamos sozinhos, assumindo as péssimas escolhas que, só após muita maturidade enxergarmos. Maturidade não é para qualquer um. Maturidade é para quem sabe conviver com a trajetória que decidiu seguir, olhando para trás apenas para saber que, valeu a pena o esforço.
Imagem de capa: Vadven, Shutterstock
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Obrigada por esse texto, Luverlandio. É bom ler algo que sinto, mas não conseguia elaborar. Você não imagina o quanto me ajudou e o quanto ajudou a clarear um pouco da minha mente. As palavras também podem ser afagos na alma. Nas suas palavras desse texto pude perceber essa máxima.