Jorge Amaral

Se não puder te esquecer, vou escrever uma carta te pedindo socorro.

É improvável que alguém consiga esquecer o primeiro amor. Não me refiro ao primeiro namoro ou ao primeiro relacionamento, me refiro àquele amor que a gente traz na lembrança mesmo que não faça mais parte da vida da gente.

Aquele sentimento que causou um impacto transformador e sem precedentes, que deu origem ao primeiro “tudo” nas nossas vidas – o primeiro olhar, o primeiro encontro, o primeiro beijo, a primeira noite sem dormir – e que nos proporcionou muitas alegrias, lágrimas, lutas e recompensas. Eu acredito que o fato de não vivermos mais esse amor, não quer dizer que tenhamos que esquecê-lo; e que muitas pessoas são infelizes porque não acreditam o amor, ou não investiram de forma plena nesse sentimento, outras acreditam tanto quanto em Papai Noel ou Coelho da Páscoa.

As sensações que sentimos ao amar pela primeira vez, se diferem obviamente do primeiro namoro. No primeiro caso, muitas vezes, usamos frases curtas e penetrantes para demonstrar esse amor que emana de forma simples e natural, ao passo que o namoro denota uma carência que não seria demonstrada num texto inteiro, o que torna tudo muito mais racional.

Atentamos para o primeiro amor, que nos parece ser muito breve, mas tem o peso de um amor eterno. E quando ele chega, vemos que com o que trouxe, pode voltar que continua sendo amor, mesmo quando acabou. (Entenda…)
Muitas pessoas ingressam num relacionamento usando a máxima de que “um novo amor fará esquecer o anterior”.

Entretanto julgo que isso seja impossível acontecer, caso contrário, é porque não era amor. Não podemos pensar evidentemente, que há a obrigação de se manter isolado para manter vivo esse amor. Muitas pessoas pensam, de forma errônea, que é impossível aprender a amar, quando passamos pela experiência de perder quem amamos, mas a verdade é que em muitos casos, a desistência revela o verdadeiro amor, quando se abre mão da presença da pessoa amada, apenas para vê-la feliz. Porque nem sempre há compatibilidade entre as pessoas para que haja reciprocidade na sua vida pessoal, como no amor. Nem sempre há entre as pessoas a realização de chegarem ao matrimônio com o seu “grande amor”. O problema em si, não é a beleza do romance ou a falta de amor de uma das partes, mas as incompatibilidades ou os problemas inerentes ao dia a dia das pessoas.

Mas devemos nos lembrar de que o primeiro amor chega quando não se espera. Quem sabe ele se lembre de que à beira daquele rio, havia uma menina que estava brincando e que por um momento, esboçou um sorriso que marcou para sempre? Ou que ela no parque, quando viu aquele menino sentado na grama, sorrindo, ficou encantada e desde aquele dia ela guardou o seu sorriso e tentou nunca mais se esquecer. Então eles se separam. Com o tempo se casaram, e um dia, distantes, se lembraram, cada um no seu mundo, do seu primeiro amor. Eles então sorriem, e dizem a si mesmos: Eu vivi meu primeiro amor, quando tinha tantos anos…

As histórias de amor são sempre parecidas. As pessoas se amam se desejam, mas dificilmente podem viver a realidade de um conto de fadas, O primeiro amor é a loucura que vivemos com louvor. Podemos dizer que nele, há um sentimento muito verdadeiro, mas que depende de muitos fatores para que seja vivido. Entretanto em muitos casos, ficará apenas na lembrança, como um amor marcante, e que será descrito apenas como cartas de poemas.

Imagem de capa: everst, Shutterstock

Jorge Amaral

Jorge Amaral, brasileiro, natural de Ataléia/MG. Colunista e escritor semi-profissional. Livro publicado – PALAVRA É ARTE – Coletânea com outros autores. Escrevo porque considero a minha vida como uma eterna poesia, porque me perco na escrita e me encontro na leitura.

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