No universo dos relacionamentos amorosos é bastante comum algumas pessoas se queixarem de que seus vínculos amorosos sempre se repetem no que se refere à dinâmica e ao desfecho. São frustrações sucessivas que levam a pessoa a sentir-se cada vez mais inconformada e destruída emocionalmente, optando, em muitos casos, por desistir de vez dos vínculos afetivos. Tudo acaba se repetindo a cada nova tentativa: os maus tratos, que podem ser emocionais ou físicos, os enganos, as traições e, por fim, o abandono.
Dependendo do contexto social e religioso da pessoa, é possível que ela vincule essa desordem a fatores espirituais como castigo divino, maldição, carma ou algo do gênero. Ou seja, atribuir as causas de um fracasso aos fatores externos ou mesmo místicos parece bem mais confortável do que tentar uma auto responsabilização. Afinal, uma vez que a culpa é de alguém ou de um ente espiritual, a pessoa não terá que mudar nada em si, não é mesmo? Considerando que a auto responsabilização implica em se colocar como agente das próprias escolhas e responsável pelas consequências delas, colocar-se na condição de vítima parece ser uma escolha bem atrativa para muitos.
É fato que o papel de vítima tem suas recompensas psicológicas, uma vez que o sujeito será sempre visto como o injustiçado, o incompreendido, o bonzinho que nunca foi valorizado, etc. Quem nunca ouviu ou pensou algo do tipo: “puxa vida, um homem tão bonzinho e a mulher não valorizou”, ou “nossa, uma mulher tão bacana, e não dá certo com ninguém”? Em contrapartida, o sujeito precisa de muita honestidade e maturidade para assumir que foi ele que escolheu a primeira pessoa que apareceu em sua frente para se relacionar, afinal, sua autoestima estava em frangalhos, justamente por ter sido traído e ultrajado no relacionamento anterior.
Não será nada cômodo, para esse indivíduo sair do papel de coitado e admitir que não fez questão de avaliar nenhum critério na hora de iniciar um namoro, afinal, quem procura acha, dessa forma, foi melhor fazer vista grossa e nutrir a pretensão de “consertar” algum possível “defeito” que a pessoa manifestasse posteriormente.
Há ainda uma tendência, especialmente por parte das mulheres, de agir com uma espécie de maternalismo para com aqueles pretendentes que aparecem em suas vidas totalmente deprimidos e, inclusive, com alguns traços de transtornos psicológicos preocupantes que requerem uma intervenção séria(psiquiatra, psicoterapeuta etc).
Muitas vezes, são pessoas que já fracassaram em relacionamentos anteriores por conta de atitudes agressivas, e que se recusam a aceitar que estão adoecidos psicologicamente. Essas pessoas atribuem os desajustes comportamentais ao comportamento do parceiro, dessa forma, elas justificam-se dizendo: “eu surtei em casa porque minha ex mulher(ex marido) me estressava”, “eu quebrava tudo e agredia a todos porque eu era muito injustiçado”, ou seja, a culpa é sempre do outro, sempre haverá um fator desencadeador dos seus distúrbios.
Diante disso, um carente em grau máximo pensará: “bem, ele(a) é uma excelente pessoa, o que ele(a) fazia de errado era por culpa de outras pessoas, basta que eu me comporte direitinho com ele(a) para que tudo dê certo”. Eis aí a grande cilada.
Não que seja contra indicado as pessoas doentes emocionalmente se relacionarem afetivamente. Contudo, elas precisam entender que um distúrbio psiquiátrico não será curado com um novo relacionamento, um novo amor não substituirá o papel de um psiquiatra, tampouco a medicação que ele deveria estar tomando. Não será possível uma pessoa passar a vida toda culpando os outros pelos fracassos dela.
Passar a vida inteira atribuindo aos outros os seus próprios fracassos é, no mínimo, uma mistura de irresponsabilidade com imaturidade, atributos totalmente incompatíveis com a prosperidade de qualquer relacionamento.
Se algo está se repetindo demais na vida de uma pessoa e isso tem trazido um descontentamento, faz-se necessária uma revisão de vida. Fazer uma pausa, desacelerar ou mesmo brecar qualquer envolvimento amoroso é recomendável. É preciso identificar o que está acontecendo, e a busca por ajuda profissional precisa ser encarada como uma decisão urgente. O que não é saudável é viver andando em círculos, protagonizando as mesmas tramas infelizes, substituindo apenas o parceiro. Assumir a responsabilidade pelo próprios atos, em especial, os mal sucedidos, pode trazer muito desconforto, inicialmente, porém, ainda não inventaram outro método para uma transformação efetiva na vida de uma pessoa, afinal, é necessário expor a ferida para que ela seja curada.
Imagem de capa: g-stockstudio, Shutterstock
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