Confesso que gostaria de não ser tão intensa naquilo que sinto. Gostaria de não me jogar de cabeça do alto de um precipício sem ter a certeza que há alguém lá em baixo me esperando. Gostaria de me satisfazer com a água até os joelhos e não querer mergulhar cada vez mais profundamente sem medo de me afogar e não me importando se terá alguém que me salve caso isso ocorra. Eu queria ser como as pessoas que sentem de forma contida, regrada, equilibrada. Eu queria botar dois sentimentos numa balança e deixar que o que me faça bem seja o mais pesado e acabe sendo o mais forte, porém eu sinto como se meu coração fosse uma gangorra onde em um momento minha autoestima está lá em cima, mas logo o amor-próprio está lá em baixo. Aonde quem comanda o subir e abaixar da gangorra são as pessoas que mais me marcam e são as que me levam ao paraíso e ao caos num segundo.
Eu gostaria de não me importar tanto com as pessoas. De não ficar preocupada se a pessoa está se alimentando bem, se ela está se sentindo sozinha ou se precisa da minha ajuda para resolver uma coisa difícil. Eu gostaria de não fazer cobranças, de deixar a pessoa em seu próprio espaço e que as atitudes dela não afetassem o meu humor, mas que eu me sentisse feliz independente do jeito que aquela pessoa especial para mim está me tratando. Eu não queria ficar perguntando por que a pessoa está estranha comigo, o que eu posso ter feito de errado e ir logo pedindo desculpas pelo que fiz, e até pelo que não fiz. Eu não queria ser aquela que fica tentando fazer a pessoa rir, que se sacrifica quando está ocupada só para dar atenção a alguém que esteja precisando de mim naquele momento. Mas eu faço sim cobranças, eu sou sim insistente até saber por que ele está tão diferente e não rindo como faz todos os dias.
Sou aquela que se importa, que se interessa, que dá o melhor de si para alguém sem ter a certeza de que receberá algo em troca. Sou aquela que abraça porque gosta da sensação do corpo do outro junto ao meu, e que sabe que um abraço pode curar tanta coisa ruim que nos atinge na nossa rotina. Sou aquela que antes já fora fria, mas que agora transborda sentimentos por que nunca se sabe como será o dia de amanhã e quer deixar a pessoa sabendo que a ama independente do que venha a acontecer. Por isso eu sou aquela que tenta faz o outro se sentir bem vindo, amado, querido, e que não importa a situação pode contar comigo para o que der e vier, porque eu sei como é precisar de alguém e ter a sensação horrível de se ver sem qualquer auxilio, apoio e ombro amigo. Eu não quero que as pessoas próximas a mim sintam o peso que já carreguei sobre meus ombros e que se sintam solitárias no meio da multidão.
Todavia, ser essa pessoa trás mais cicatrizes do que sorrisos. Ser a pessoa que dá algo sem esperar um retorno é se esvaziar não podendo esperar sem cheia de novo em seguida, mas é abrir o coração sabendo que talvez ele continue vazio, pois dar amor não dá garantia de reciprocidade. Ser amiga de alguém não quer dizer que aquela pessoa é a sua amiga, ou admirar, gostar, elogiar e ajudar uma pessoa não quer dizer que ela fará ou será o mesmo por mim, mas que eu sinto a necessidade de ser e fazer. Porém, no fundo isso dói, pois é se machucar ao tentar curar alguém, é ficar nu para cobrir o outro que passa frio dentro do peito, é dizer estender a mão não sabendo se seus dedos serão feridos no processo. Dói mais ainda quando eu sei que determina pessoa pode me ajudar em tal coisa, mas a pessoa escolhe não fazer ou está tão ocupada em sua própria vida que não nota os problemas da minha.
Mas toda ás vezes que algo em mim diz que devo parar de ser assim, que devo agora cumprir as seguintes metas: não me importar; não criar expectativa; não fazer cobranças; não sentir ciúmes e não sentir saudades. Algo maior e mais forte grita em mim, é uma voz diferente, mansa, aonde a entonação me dá a sensação de aconchego e paz, e essa voz me trás a memória que Jesus Cristo também passou por isso. Não importando se as pessoas acreditam que Ele tenha sido ou não uma divindade, porém eu acredito que Ele seja o Filho do Deus Vivo, é inquestionável a forma que Ele decidiu viver para amar as pessoas e entregando a elas o seu melhor mesmo que elas dessem pouco ou nenhum retorno. Jesus levou cura para pessoas que não faziam ideia de quem Ele era, além de ter morrido numa cruz para dar uma chance de salvação até mesmo para aqueles que o pregaram ali. E isso diz respeito a amar intensamente o outro e não deixar de amar porque conhece já o coração da pessoa, sabendo que ela um dia o negaria e trairia.
E esse Jesus quer que haja em mim o mesmo sentimento que houve Nele. Quer que em meu coração queime também esse amor intenso, profundo e sem medidas. Então percebo que em mim há algo Dele e não posso jogar fora mesmo que me dê dores de cabeça, choro durante toda uma noite, cicatrizes, tristeza e decepção. Seria sim mais fácil não ser mais essa pessoa que se importa e quer ver o outro feliz, mas eu prefiro ser aquela dita como “trouxa” e idiota do que aquela dita como fria e apática. Pois, afinal de contas, o mundo já está tão mal, tão sujo, tão obscuro, e não quero ser mais uma que levará a ele mais desamor, mais um coração congelado, mais uma negação de perdoar e de dar uma nova chance. Me trará dores que seriam desnecessárias caso eu escolhesse não correr o risco de senti-las, mas eu novamente dou uns passos para dentro da água, sinto a sua temperatura e areia, então um medo me domina, um rebuliço toma meu estômago, porém eu lembro que prometi para mim mesma que me permitirei sentir, que irei mergulhar e ir cada vez mais profundo, pois a voz mansa, que era a do Espírito Santo, me diz que há alguém para me salvar caso eu me afogue e esse alguém é Aquele que foi pregado numa cruz por minha causa.
Imagem de capa: Maria Svetlychnaja, Shutterstock
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