Não é fácil admitir quando erramos. É preciso deixar o orgulho de lado e o medo de encarar frente a frente o mal que causamos. “Eu errei” são palavras que a gente amadurece aos poucos dentro do nosso coração, para quando for preciso, dize-las naturalmente. Todo mundo erra, cedo ou tarde. Admitir um erro seja ele qual for, quando de coração, é um ato de bravura de poucos. Aceitar que as nossas atitudes causaram dor naqueles que amamos, nos causam uma dor igual ou, às vezes, até maior. Talvez, isso, explica a retrativa das palavras que custamos a dizer. Guardá-las na gente é aceitar o afogamento nos próprios sentimentos. É preciso pedir perdão.
Existem erros e erros. Erramos quando não somos recíprocos com aqueles que, diariamente, ama a gente. Erramos quando furamos a fila da lotérica. Erramos quando falamos mais do que o necessário, caluniando. Erramos quando não devolvemos aqueles cinco centavos de troco, ou deixamos de cobrar o nosso. Erramos quando traímos – de varias formas! – quem é leal com a gente. Erramos ao pedir ou passar cola na prova da faculdade. Erramos… e continuaremos a errar. A gente é feito de erros e acertos, seres humanos imperfeitos. É preciso ponderar a gravidade dos erros que cometemos; porém, sem achar justificável o erro a ponto de escondê-lo. Admitir o erro e pedir perdão eleva a gente para um nível que poucos chegam; tem gente que erra por caráter, por má fé, por vaidade do ego, mas daí é outra conversa.
De todas as virtudes, o perdão é a maior delas. É achismo puro. Quando falta amor, há a gentileza, quando falta gentileza, há moral; quando erram com a gente nos ferindo lá dentro da alma, há o perdão para nos remediar. Dizer “eu perdoou você” é curar-se de uma dor que carregamos. Deixar para trás uma bagagem sempre pesada, que carregamos, permite caminhar com passos leves. Alivia a vida. Dá uma chance para quem cometeu o erro, melhorar.
Eu sei que é difícil perdoar quando a dor é causada por aqueles que não imaginávamos. Errar é humano, diz o ditado. Todo mundo pode errar e, afirmar que a gente perdoa tudo é, forçar demais. Não estou dizendo que há erros imperdoáveis. Acontece que, infelizmente, não sabemos como vamos lidar com o difícil reconhecimento de que alguém falhou insensivelmente com a gente. Desculpar a demora pela resposta daquele bom dia que virou boa tarde, é fácil. Desculpar o atraso no encontro usando o trânsito como desculpa, fácil. Difícil é desculpar à dor que destrói a alma, o coração, a lealdade. E cada um tem seu tempo para digerir a própria dor.
O perdão é uma prova legitima de amor. Ou do amor que existiu. Não perdoar é colocar-se no nível do outro, não no lugar do outro. “Eu lhe perdoou” mesmo sabendo que aquele erro poderia ser evitado, que pensar no sentimento além do próprio, é possível e necessário. “Eu lhe perdoou” é prova de entendimento da natureza humana, principalmente dos próprios defeitos – porque uma hora dessas poderá ser a gente a errar.
Por mais que assumimos as nossas responsabilidades, podemos não ser perdoados. E tudo bem. Fazemos a nossa parte. É preciso ter em mente que cada pessoa reagirá de uma forma. Cada pessoa está em seu próprio nível de amadurecimento. Peça desculpas, peça perdão. Apenas peça sem esperar ser desculpado, sem esperar o perdão importante para ambos os lados. O importante é seguir com a alma, mente e coração livre, leve.
Imagem de capa: fizkes, Shutterstock
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