O Facebook me lembrou recentemente de uma imagem de alguns anos atrás. Dá pra ver um grupo de mochileiros na frente de uma cachoeira no interior do Amazonas. Lá no meio estou eu, todo felizinho, barba por fazer, e do meu lado um grande amigo que fiz naquela viagem: Sol Galáctico Amarelo. Sim, esse é o nome dele. Chileno e uma das pessoas mais doces que já conheci.

O curioso é que comecei essa viagem sozinho. Botei uma mochila nas costas e fui. Aos poucos, fui conhecendo uma pessoa aqui, outra ali, e fomos formando uma espécie de família de rota. A gente se encontrava numa cidade, alguns na próxima, outros na posterior, depois o grupo todo uns dias depois. Sem combinar nada. A gente apenas chegava e já avistava aquele pequeno grupo de mochilas coloridas.
Nesse mesmo dia da foto, conversei com Sol sobre como achava isso incrível. “Até onde será que vamos fazer o mesmo trajeto? Digo, todas essas pessoas. É muita coincidência, você não acha?”. Ele pensou e respondeu: “Eu não acho que a gente se encontre porque vamos pra mesma direção. Eu acho que nós nos encontramos porque vamos no mesmo ritmo”.

Essa conversa sempre me vem à mente quando penso nas relações à minha volta, e claro, nas que meu próprio coração atravessa. Cansei de ver casais que aparentemente sonham com as mesmas coisas, seguem a mesma estrada, mas se perdem pelo caminho por discordância de ritmo. Amigos com os mesmos interesses, mesma visão de mundo, desinteressando-se, desprendendo-se, tomando trajetórias completamente diferentes. Ritmo, repetiria Sol. Ritmo.

Na vida e na estrada é preciso respeitar o ritmo das pessoas. Seu tempo para aprender, absorver, enxergar certas verdades. Não dá para apressar o caminhar do outro, não dá para arrastar ninguém para a dianteira conosco. Não dá para atrasar o passo de quem vai longe por nossa vontade de ficar mais um pouco. O máximo que se pode fazer é ralentar seu passo, mas isso seria profundamente injusto consigo. E com o tempo aprendi que essa é a pessoa que mais devo respeitar pelo caminho: eu mesmo.

Eu torço pra que nossos passos sejam pareados. Eu torço pra que a gente continue se encontrando, meu amor. Mas jamais iriei intervir no teu ou no meu ritmo. Você é lindo demais no seu próprio tempo. Teu tempo é tua perfeição e imperfeição na mesma proporção, como tudo o que é bonito. Vim descobrindo que te admirar é parte essencial dessa parte da minha jornada. Simplesmente imperdível. Meu amor é aceitar teu ritmo, defender teu caminho e torcer para que a gente continue se encontrando aqui, ali ou mais adiante, pelo tempo que nos for possível.

Imagem de capa: Volodymyr_Dyrbavka, Shutterstock

Diego Engenho Novo

Escritor, publicitário e filho da dona Betânia. Criador do blog Palavra Crônica, vive em São Paulo de onde escreve sobre relacionamentos e cotidiano.

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